03/08/2005

Interesses de Fogo

Os interesses, vulgo tráfico de influências, grassam até todos nós acharmos normal, acharmos que faz parte do nosso dia a dia.
Todos nós temos um amigo que, íntimo ou não, que recomendamos para aquele trabalho, que nos arranja aquela pechincha, que conhece alguém que conhece alguém que nos ajuda a ter aquilo que pelos meios legais não conseguimos alcançar.
Até nem discordo completamente com esta lógica de funcionamento: considero preferível trabalhar com alguém conhecido com o qual tenho confiança do que um total desconhecido cujo Currículo tem 50 páginas e iguais anexos.
Mas algo que não tolero (e espero que o comum cidadão também não) é que insultem a minha inteligência.
Dois casos:
Vi no passado domingo uma reportagem na SIC, “Asas de Aluguer”, que falava do negócio de milhões do aluguer de meios aéreos para combater os fogos a empresas particulares que perdura DESDE 1996. A diferença entre um aluguer de um desses transportes a mim ou a um de vós e o mesmo tipo de transporte ao Estado é em montantes em que a factura sai bastante mais cara ao Estado português; este facto aliado ao facto da ausência de interesse da parte dos Governos que se sucedem em se dotarem de transportes aéreos para combate aos fogos florestais e assim garantir a independência económica do Estado nesse sector é estranha e bizarra. Ainda mais, quando temos conhecimento da existência de um programa que dotava a Força Aérea de competências no combate a incêndios florestais que, inexplicavelmente, terminou antes de começar em 96.
Leva a pensar: é de louvar um Estado que rodeia-se de empresas da sua confiança, mas é execrável um Estado que faz negócios menos claros quando estão envolvidas a vida de bombeiros, o sofrimento de populações, o futuro verdescente das gerações vindouras.

P.S.: Num outro apontamento – que não está em nada relacionado com este que acabei de escrever – ontem, numa atitude sem precedentes (lol), o Governo, pela mão do recém-chegado Teixeira dos Santos, saneou a administração da CGD, numa autêntica atitude de JFB (Job For the Boys) com a banda sonora de Sérgio Godinho, “Arranja-me um Emprego”.