15/01/2008

O meu Monte dos Vendavais


Eu vivo na província da paisagem
Na encosta do monte onde os Santos pernoitam no seu topo
Onde as
clandestinas
casas da antiga aldeia
são violadas na sua fealdade pelos emergentes prédios de rendas astronómicas
Onde as linhas de alta tensão
cruzam a localidade inclinada
e os seus postes metálicos servem de adorno central às rotundas toscas e abandonadas
na incauta circulação automóvel
as trepadeiras reclamam para a mãe-Natureza
a electricidade forasteira e invasora
É certo que lá em baixo no vale
jaz plácido e acolhedor
o hipermercado contestado
e as suas lojas entreabertas
mas aqui
o Horizonte é um Pico
pejado de putas e sodomitas
vislumbrados na esquina
à sombra do Bairro Social camarário
de tal forma abjecto
que é ele próprio enlapado
por ilegais barracas de tijolo e cimento
Aqui
as ruas são uma tapeçaria de tosca calçada cinzenta
e asfalto ondulado
Aqui
a chuva não sendo uma constante
as suas poças a adornar o soalho
saúdam
ininterruptas
os incautos à porta da colectividade dos trabalhadores
Ontem
a noite foi recebida com os ventos
como vagas de contra o paredão da encosta do monte
e assim permaneceu durante todo o dia
aquele silvo que nem estática num rádio
aquele ribombar do ar gélido
aquele vendaval aflito
a comprimir os nossos corpos unos
contra a intempérie de vozes e o chilrear exterior
A minha mímica debaixo deste tecto apodrecido
apaziguada pela tua férea vitrina
na caverna do nosso ninho