10/01/2008

Ota, Mon Amour




A minha mulher recordou-me de umas declarações passadas de um certo ministro das Obras Públicas.
Ora, o mesmo ministro que disse que a construção do novo aeroporto na Ota era uma decisão final, foi o mesmo que afirmou que a estação de Metro no Terreiro do Paço é perfeitamente segura.
Não quero ser sofista nesta associação de ideias, mas tendo em conta os numerosos actos de contrição que o nosso ministro esteve a fazer nos meios de comunicação social durante o dia hoje, como bom samaritano que sou, vejo-me forçado a aconselhar os utentes do Metro lisboeta para que evitem a linha azul, principalmente nas suas estações terminais junto ao rio.
Mas apraz-me que esta novela camiliana do novo aeroporto tenha chegado por fim ao seu término. Salvo seja, porque até que a primeira pedra seja colocada muita água vai passar sobre as (futuras) três pontes de Lisboa; muitas reavaliações orçamentais vão ser projectadas; muitos redimensionamentos das instalações aeroportuárias vão ser desenhadas; e, ainda existe muita privatização para fazer a Sul, e a Norte do Tejo.
No fundo, não sendo técnico, e como uma opinião antropológica para esta localização é irrelevante, julgo que foi a melhor alternativa. Como disse, não tenho nenhum argumento que legitime a minha opinião, a não ser que, nesta alternativa falamos de uma povoação com raízes alentejanas e que, como mais-valia, fica mais próximo de Espanha e assim sendo sempre dá para ir ao outro lado da fronteira comprar o combustível para as aeronaves mais barato.
A construção do novo aeroporto vai também gerar mais riqueza e postos de trabalho. Como a sua localização será ainda mais próxima da capital é mais um factor a funcionar como íman para os restantes portugueses migrarem de vez para as grandes cidades.
Depois do encerramento das maternidades, das urgências nos Centro de Saúde, das escolas, de secarmos por completa qualquer compensação para viver no interior ou mesmo numa cidade com menos de 200 mil habitantes, podemos fazer à la Pol Pot, mas ao contrário: confinamos a população portuguesa a Lisboa e Porto; o resto passa a ser efectivamente Paisagem.
Para além do mais, as muralhas na fronteira já há muito que são inócuas. E assim, tornamo-nos, finalmente, numa grande nação ibérica. Agrada-me passar a ter um nível de vida semelhante a um espanhol. E que não seja somente os aeroportos, o que tenhamos em comum.