26/04/2008

O Dia Seguinte à Liberdade

Gostava de ter uma máquina do tempo para conhecer duas épocas da nossa história: o período do Regicídio e os anos do PREC. Foram tempos de inusitada rebeldia e revolução a cada segundo que passava em que, pelos relatos históricos que existem, sentir-se-ia o fervilhar de ideais contraditórios nas ruas.
O viver do PREC então deve ter sido um misto de insegurança e intervenção para quem o viveu e presenciou.
Ao pensar nisto, penso na data mais importante do nosso calendário nacional: o 25 de Abril. Imagino como devia ter sido para eu próprio no dia 26 de Abril de ’74. O dia da ressaca da Liberdade a transbordar pelas ruas de Lisboa cujas vagas invadiram as colinas, vales e socalcos do resto do país. Depois de toda uma celebração da felicidade e da libertação do jugo de 40 anos cinzentos e imersos no negrume da ditadura salazarista, as pessoas ao desperteram no dia 26, como é que eu e a minha família nos teríamos comportado face a essa nova condição de Liberdade. Imagino os sorrisos rasgados a ocultarem os pensamentos de “e agora como é que vai ser”. Como a minha família está habituada à mudança e sempre nos adaptámos e construímo-la nos nossos moldes deviamos merecer ter vivido e presenciado esses tempos.
Por vezes penso no que é que os outros pais ensinam aos seus filhos o que foi o 25 de Abril… Digo desde já que não o vivi. Fui criado numa família que me ensinou que a dádiva da Liberdade é das mais importantes que o Ser Humano enquanto cidadão pode receber e, que por esse motivo, apesar de qualquer consideração de realização plena ou não, temos de agradecer o facto de existir esse dia no nosso calendário.
As “Portas que Abril abriu” foram muitas. Algumas foram atingidas no seu pleno; outras, infelizmente, ainda estão por alcançar. Dado a idade da minha filha ainda não tem a percepção de perceber a importância deste dia. Mas quando tiver, um dos primeiros ensinamentos de Abril foi a Liberdade de Expressão. A qualidade de vida, a situação económica são tudo questões de contexto porque eram outros tempos e outros condicionalismos, mas a Liberdade de nos exprimir-mos é uma benesse independentemente da época histórica que se vive.Actualmente, se tivesse já de explicar à minha filha as diferenças entre a Liberdade de Expressão no tempo da outra Senhora e nos tempos socráticos actuais, dado a escassez de contrapontos entre ambas teria de mostrar-lhe em nota de exemplo uma realidade expressiva de outra sociedade… Espero é que essa nunca seja uma sociedade idílica.