15/01/2008

Conjuntivite parte 2

Conjuntivite

A minha filha está com conjuntivite.
Apesar da sua tenra idade, já é a segunda vez que apanha conjuntivite. Da primeira vez (já não me recordo) julgo que já estávamos em Braga.
É desolador vê-la com aquelas ramelas esverdeadas espessas e peganhentas agarradas aos olhos.
Ontem à noite estava mais grave, de tal forma que nem conseguia abrir os olhos como se tivesse uma película de cola Pattex entre as pálpebras. A primeira vez que detectei tive de as separar com os dedos; da segunda vez, já foi o amor maternal a actuar. Passo a explicar: a minha mulher chegou ao fim da noite e a minha filha ao ouvir a sua voz, fez força de tal forma que conseguiu abrir, sem qualquer auxílio, os olhos para a poder vislumbrar.
Hoje está melhor, embora ainda lacrimejante. Acresce o facto de estar ligeiramente constipada, o que tudo junto retira-lhe o apetite e aumenta a sua sonolência. Este último sintoma é mais sobressaltante porque, habituado que estou a que seja irrequieta, dou por mim constantemente a controlar a sua respiração.
Agora, está aqui a brincar com os seus bebés e as suas estórias; a fungar, a lacrimejar mas já indiferente à sua doença.
Ontem até estava consciente da sua doença e dizia “dói, dói, olhos” a apontar para eles. Tivemos de ir às Urgências.
Após o diagnóstico, eu próprio fui induzido a sentir comichão nos olhos – tal é a influência sugestiva da mente.
Somente comecei a frequentar os Hospitais públicos com alguma regularidade após ter sido pai. Primeiro, foram as Urgências do D. Estefânia. Actualmente, são as do S. Marcos. Já fui bastantes vezes mas posso afirmar com alguma segurança que só uma deles foi durante o dia.
Ontem, invariavelmente, foi a altas horas da noite. Apesar do avançado da noite, ainda tivemos de esperar quase uma hora até estarmos, por assim dizer, despachados.
Como antes da minha paternidade eram espaços que não frequentava com regularidade nunca tive a impressão do contexto que tenho hoje. Identifico certos lugares-comuns que, na realidade, são personagens-comuns às Urgências nacionais. Seja no norte ou no sul, no campo ou na cidade, sempre que lá vou deparo-me com uma mãe ou pai cigano que lá está com um filho, arrastando atrás de si toda a família e o amontoado de roupa. Outra personagem-comum é o viciado. Se na Estefânia, a embriaguez era alcoólica na pessoa do pai bêbado; no S. Marcos, ela é resultante dos estupefacientes.
Ontem, lá se repetiram novamente: a mãe romena com o seu recém-nascido; o casal adolescente de agarrados e as suas misteriosas movimentações. Curioso como a História repete-se a si própria com leves desvios nos seus matizes coloridos.