23/02/2008

A Questão Kosovo


Acho apaixonante a temática e os conflitos socio-políticos que a declaração unilateral da Independência do Kosovo veio levantar.
A meu ver, temos de um lado o bloco russo e toda a sua herança eslava e czarista de agregação e congregação de muitos povos e território debaixo da mesma bandeira. Existe na tradição eslava, e principalmente na história da Rússia, a noção de que o poder de uma Nação (com “N” grande) está na extensão das suas terras. Por esse motivo, Putin coloca a mão em cima do ombro do seus eternos amigos sérvios para assegurar a sua protecção e convicção em como a Sérvia tem de se manter uma Jugoslávia – sim, eu sei que Tito e os antepassados de Putin não foram os melhores camaradas.
A atitude de Putin é justificável, não só por camaradagem eslavo-política, mas inclusive por interesse egoísta na própria coesão nacional. A URSS era um Estado puzzle mas a Rússia – cujas fronteiras remontam ao distante Ivan, o Terrível – não deixa de ser um Estado multi-étnico de pequenas comunidades cosidas em linho forçado pelo jugo do Czar reinante. Por esse motivo, exemplos de Independências unilaterais ou secessões forçadas não interessam que vigoram e que sejam inscritas na História dos Tempos a influenciar rebeliões independentistas, que até já vigoram no seu imenso território.
Mais curioso que o próprio interesse czarista do Império do Leste é ele conseguir arrebanhar irmãos ocidentais na sua ideologia de coesão nacional. Não surpreende que países como a Geórgia (cujo povo sempre nutriu um ódio pessoal pelos russos), a Turquia, a Roménia acompanhem Putin na sua relutância em recusar a Independência do Kosovo; mas é engraçado ver, e confirmar, países como a Espanha, a Grécia, o Chipre que, por interesses próprios, acompanham a manifestação de revolta da Sérvia e da Rússia.
Do lado oposto, no meu entender, temos o bloco mercantilista, personificado na política externa e de ingerência internacional dos EUA, Reino Unido e Alemanha.
Estes foram e são os países que instigaram e alimentaram o povo kosovar na sua luta separatista face à grande sombra eslava que deles se acercava. Dado as diferenças étnicas que se avolumavam, tendo em conta o aumento de albaneses no território tal emancipação, e a guerrilha que se seguiu, justificou junto da comunidade internacional, forçando a uma tomada de posição.
No entanto, essa tomada de posição joga com interesses dúbios, nos quais as vontades comerciais dos grandes poderes económicos desses três países influenciam a subsequente ingerência política dos seus Governos ao impor decisões administrativas (a Independência de uma Província) num país soberano como é a Sérvia (dotado de todos os defeitos como qualquer outro país).
Aqui, parece que capitais americanos, britânicos e germânicos juntaram-se num conglomerado para impor decisões de forma a abrir novos mercados económicos mais vulneráveis à ditadura da “melhor oferta é quem der menos”.
Aqui o atroz é que foram estes mesmos países que anos atrás instigaram as vontades independentistas que estavam latentes nos Balcãs e, cujo desmembrar, deu origem à luta fratricida do genocídio das guerras na ex-Jugoslávia. Espero, a bem da Humanidade, que tal não volte a ocorrer.
Perante esta divisão anárquica de posições, em que diferentes Governos de Leste e Oeste abraçam posições diferente fico curioso em saber qual vai ser o bloco ao qual Portugal se irá juntar.