25/02/2008

Reclusão (O périplo de Manuel Teixeira Gomes)


Recensão às Memórias do Presidente
admiração nas páginas folheadas
de ano após ano
na reminiscência que imponho no meu olhar
As montanhas que me cercam
o exílio auto-infligido
inocula-me com a nostalgia de um estuário perdido
de um pôr-do-sol fluvial
numa foz distante da margem em que me encontro
Não embarco numa fragata épica
o meu corcel é ferrugento
e os seus deuses são os monstros do passado
que me amparam até ao meu destino
o imutável e sempre distante destino
Exílio
como uma chaga sempre presente
a sangrar sem fim
é um retrato em carne-viva dos pórticos que não mais vislumbrarei
a ansiosa contagem decrescente no cruzar de um túnel pelo qual não passarei
os bancos de jardim numa metrópole nos quais tenho receio de me sentar
o medo de os ver
singelos rústicos e belos
Tenho medo
uma promessa de não regressar
uma jura em me penitenciar
e castigar meus olhos e meu olfacto
a não atingir a tua perfeita arquitectura
a beleza da tua natureza
a formosura de viver no teu interior
Sou recluso na imensidão do firmamento que te foge
condenado a evitar
tua diminuta prisão