10/06/2009

Tradução: A Democracia não interessa!












Apesar de achar que é o típico intelectual arrogante de direita que (também tipicamente) renegou as suas origens de Menino Rabino que Pinta Paredes, de quando em vez gosto de ler os artigos de opinião do Pacheco Pereira.
A par do seu ódio de estimação pela RTP, Pacheco Pereira tem desenvolvido recentemente uma animosidade abrupta pelo BE, ao ponto de ter regurgitado o seguinte artigo de opinião na ‘Sábado’ de 28 de Maio:












Ora o que o douto senhor na sua sapiência nos diz – e esta, claro está, é a minha interpretação – é que a sua resposta torta não é mais do que a resposta paternalista e condescendente como quem diz: “ó filho, tu não percebes nada da vida” ou “isto é areia a mais para a tua camioneta” ou mesmo “deixa as decisões importantes para quem sabe”.
Porque o Pacheco Pereira ao discorrer esta opinião está na prática a dizer o que muitos dos apparatchik e opinion makers como ele, pensam e agem. Que a Democracia e a escolha da população não deve ser mais do que uma mão que roda a manivela da engrenagem da alegre sucessão entre os dois grandes. Sim, porque o seu argumento de «um partido que seja solução de governabilidade» é o mesmo que dizer que temos de ser pragmáticos e aceitar que a nossa escolha tem de se cingir entre o pior ou o menos mau, conforme o primeiro esteja em funções de Governo face ao último que está na oposição.
Se calhar, nós os eleitores, devíamo-nos resignar e abolirmos o multipartidarismo da nossa democracia e assumirmos o nosso bipartidarismo. Melhor ainda: avançarmos rapidamente e em força para uma sociedade à la Philip K. Dick em que entregamos de vez o Governo ao poder económico e deixamos definitivamente as empresas e as grandes corporações governar-nos sem ser necessário recorrer aos actuais testas-de-ferro. Assim, a participação democrática resumir-se-ia à compra de acções da empresa que nos governa. Claro que o factor riqueza aqui torna-se irrelevante: os pobres não precisam de opinar sobre o Governo que os controla!
Gosto especialmente do acto de confissão do Pacheco Pereira ao proferir «..., quando tiver que pagar mais juros no banco, quando nem um tostão vier de fora para Portugal, porque um país com uma extrema-esquerda com dez por cento, não é destino de qualquer investimento, tem o seu rating ameaçado, ninguém vai abrir uma fabriqueta...». Porque na realidade quem nos comanda são o FMI, o Banco Central, a OCDE, a Standard & Poor’s e nem nos devemos atrever sequer a pensar em provocá-los com o exercer da nossa opinião democrática em eleger uma corrente política que não lhes agrade. As retaliações seriam severas, como o Pacheco Pereira nos adverte.
Ainda me recordo de um episódio que sucedeu na Áustria, não há muito tempo. Os austríacos tiveram a afronta de exercer no seu direito de voto a escolha para 2ª força política o partido de extrema-direita do (entretanto falecido) Jörg Haider. A resposta foi o ostracismo e bloqueio da parte da União Europeia que deixou de cooperar diplomaticamente e ameaçou com o fim das ajudas financeiras ao Governo austríaco. O desenrolar dos eventos políticos na Áustria (com Haider a sair de cena) provou que a determinação da UE estava correcta e surtiu efeito. E aqui estamos a falar de um Governo democraticamente eleito.
Do artigo do Pacheco Pereira e do que a História socio-política dos últimos 100 anos nos ensina, podemos traduzir o seguinte: A Democracia é secundária. A autodeterminação dos povos é irrelevante. O perpetuar do status quo (com todas as suas vantagens e desvantagens) é imperativo e crucial!... by any means necessary.