26/04/2008

As Portas que Abril Abriu

A primeira vez que fui confrontado com a força poética deste poema de Ary dos Santos foi num vínil compilado pela CGTP em celebração do segundo ou terceiro (já não me recordo) 1º de Maio em Liberdade.
Era declamado pelo próprio e, apesar do grão no disco, para sempre ficou no meu subconsciente a raiva feliz pela Liberdade que estava a declamar.


«As Portas que Abril Abriu» por José Carlos Ary dos Santos

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.

Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.

Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.

Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram

das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.

E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.

Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser

pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer
aqui que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

O Dia Seguinte à Liberdade

Gostava de ter uma máquina do tempo para conhecer duas épocas da nossa história: o período do Regicídio e os anos do PREC. Foram tempos de inusitada rebeldia e revolução a cada segundo que passava em que, pelos relatos históricos que existem, sentir-se-ia o fervilhar de ideais contraditórios nas ruas.
O viver do PREC então deve ter sido um misto de insegurança e intervenção para quem o viveu e presenciou.
Ao pensar nisto, penso na data mais importante do nosso calendário nacional: o 25 de Abril. Imagino como devia ter sido para eu próprio no dia 26 de Abril de ’74. O dia da ressaca da Liberdade a transbordar pelas ruas de Lisboa cujas vagas invadiram as colinas, vales e socalcos do resto do país. Depois de toda uma celebração da felicidade e da libertação do jugo de 40 anos cinzentos e imersos no negrume da ditadura salazarista, as pessoas ao desperteram no dia 26, como é que eu e a minha família nos teríamos comportado face a essa nova condição de Liberdade. Imagino os sorrisos rasgados a ocultarem os pensamentos de “e agora como é que vai ser”. Como a minha família está habituada à mudança e sempre nos adaptámos e construímo-la nos nossos moldes deviamos merecer ter vivido e presenciado esses tempos.
Por vezes penso no que é que os outros pais ensinam aos seus filhos o que foi o 25 de Abril… Digo desde já que não o vivi. Fui criado numa família que me ensinou que a dádiva da Liberdade é das mais importantes que o Ser Humano enquanto cidadão pode receber e, que por esse motivo, apesar de qualquer consideração de realização plena ou não, temos de agradecer o facto de existir esse dia no nosso calendário.
As “Portas que Abril abriu” foram muitas. Algumas foram atingidas no seu pleno; outras, infelizmente, ainda estão por alcançar. Dado a idade da minha filha ainda não tem a percepção de perceber a importância deste dia. Mas quando tiver, um dos primeiros ensinamentos de Abril foi a Liberdade de Expressão. A qualidade de vida, a situação económica são tudo questões de contexto porque eram outros tempos e outros condicionalismos, mas a Liberdade de nos exprimir-mos é uma benesse independentemente da época histórica que se vive.Actualmente, se tivesse já de explicar à minha filha as diferenças entre a Liberdade de Expressão no tempo da outra Senhora e nos tempos socráticos actuais, dado a escassez de contrapontos entre ambas teria de mostrar-lhe em nota de exemplo uma realidade expressiva de outra sociedade… Espero é que essa nunca seja uma sociedade idílica.

22/04/2008

Das primeiras canções de amor

Enquanto me formava musicalmente ainda catraio, as primeiras canções de amor que ouvi em Inglês foram com a voz de Bruce Springsteen; as que ouvi em português foram obviamente cantadas pelo Zeca por via das influências paternas.
Hoje, enquanto passeava pela net à medida que ouvia a reportagem do perspicaz Fernando Alves, "Mojitos, Câmbios e Proibições Obsoletas", ouvi o nome de um cantor que me recordou uma bonita canção de amor, das primeiras que ouvi sem ser na língua de Walt Whitman ou de Ruy Belo. O cantor é Pablo Milanés, um histórico da Nueva Trova Cubana, mestre de uma voz encantatória e que canta a música que me recordei: "Yolanda".

Esto no puede ser no mas que una cancion
Quisiera fuera una declaracion de amor
Romantica sin reparar en formas tales
Que ponga freno a lo que siento ahora a raudales
Te amo
Te amo
Eternamente te amo
Si me faltaras no voy a morirme
Si he de morir quiero que sea contigo
Mi soledad se siente acompañada
Por eso a veces se que necesito
Tu mano
Tu mano
Eternamente tu mano
Cuando te vi sabia que era cierto
Este temor de hallarme descubierto
Tu me desnudas con siete razones
Me abres el pecho siempre que me colmas
De amores
De amores
Eternamente de amores
Si alguna vez me siento derrotado
Renuncio a ver el sol cada mañana
Rezando el credo que me has enseñado
Miro tu cara y digo en la ventana
Yolanda
Yolanda
Eternamente Yolanda
Yolanda
Eternamente Yolanda
Eternamente Yolanda

21/04/2008

Tadinho du cucudilo

Ontem estava a ouvir o compacto do "Tubo de Ensaio" do Bruno Nogueira na TSF e a dada altura começa a parte fenomenal do crocodilo.
Essa parte e depois logo seguida com o comentário da nova cor de lábio da Manuela Moura Guedes N.º 27 da Barbot que precisou de duas demão, foi o prenúncio de um desastre: estava a conduzir. Felizmente, as lágrimas que me vieram aos olhos despertar-me para que me mantivesse na minha faixa.
De qualquer das formas, achei Brilhante!

Sugestões para o fim-de-semana que passou
Carregador Nokia

20/04/2008

A Volta ao Mundo aos 80 anos

Andar a pé para se manter jovem

Uma boa filosofia para terminar uma vida.
Espero chegar lá com essa genica e essa determinação. Claro que um boa reforma tambem ajudará ... em muito.

10/04/2008

O Triunfo da Hipocrisia


A promiscuidade política grassa na nossa sociedade.
A lógica dos caciques continua a vigorar nas elites que mandam e alternam à vez nos cargos de comando.
Um político que hoje ocupa um cargo governamental, amanhã já está à frente da administração de uma grande empresa nacional. E esta alternância entre, Político que toma decisões nos negócios de milhões e, que mais tarde, vai orientar e beneficiar dos seus dividendos, é tão normal, está de tal forma institucionalizado que, chamar à atenção para esta pouca-vergonha, apontar o dedo a esta forma velada de corrupção e tráfico de influências, é que é motivo de revolta pelas classes dominantes em S. Bento e em Belém.
Foi o que passou hoje na AR. O PS indignou-se com as acusações do BE e do PCP face à promiscuidade do novo emprego de Jorge Coelho. Sim, porque o que é revoltante são as mentes maliciosas dos partidos de Esquerda, e não a impunidade com que o PS e os partidos à sua Direita salvaguardam constantemente o seu futuro profissional junto do patronato português.
Mas isto não é mais que o status quo. Ontem foi o Ferreira do Amaral ou o António Mexia, hoje é a vez do Jorge Coelho, amanhã por certo será a altura do Telmo Correia terminar a sua ilustre carreira política e ingressar na administração de uma empresa com fortes interesses imobiliários. Afinal, quem não é bom para comer também não é bom para trabalhar!
E que não se pense que isto é um assunto somente do centralismo lisboeta.
Por exemplo, em Braga o nome do presidente da Câmara é Francisco Mesquita Machado. O administrador do Hospital de S. Marcos, em Braga (o maior hospital público da região) e do Hospital de Barcelos chama-se Lino Mesquita Machado – são irmãos. Coincidência?! Se fosse noutro país, talvez…

04/04/2008

Martin Luther King, Jr.: I Have a Dream

Let Freedom Ring …

O sonho não era dele

Ao (re)ler sobre a morte do pastor afro-americano, Martin Luther King, e dos seus contributos e participação na luta de Desobediência Civil não-violenta que preconizou durante a década de ’60, atingi duas conclusões.

A primeira reside no exemplo da desobediência da Sra. Rosa Parks. Como um singelo episódio de uma pequena contra-ordenação (para a altura seria considerado como tal) desenvolve em proporções para desencadear algo maior e incontrolável, como foram todas as manifestações posteriores que originaram o Movimento pelos Direitos Civis Norte-Americano. Ou seja, o pequeno acontecimento histórico que pode dar (e deu) origem a uma alteração estrutural na história norte-americana. Um exemplo e uma lição a não esquecer para que tenha ciente que, qualquer acção por nós tomada ou decidida nunca é irrelevante; tem sempre repercursões no Futuro.
A segunda alcancei-a quando ouvi novamente o seu apaixonante discurso. Ele teve um Sonho. Sonho esse que foi e é partilhado por outros homens e mulheres. Mas este homem do clero que professou ideais de esquerda, de não-violência, com busca ao seu objectivo de Liberdade para Todos, ainda não concretizou esse Sonho. Em 2008, temos de ter a noção que, apesar de terem decorridos 40 anos da sua morte, não podemos abandonar a luta para alançarmos esse Sonho; o mais belo e aprazível de todos.