31/01/2008

Depois de Adormecer

Costumo ter sonhos recorrentes após cair no sono.
Ultimamente tenho tido um sonho repetido que no qual vejo uma família que habita numa Estação espacial na órbita de uma das luas de Júpiter.
Vejo eles a viajar nos space shuttles, a confraternizarem num café da Estação.
Tal imagem advém por certo do fascínio que sempre tive por ficção científica. Tanto que, recordo-me da na minha adolescência já gostar do 2001 enquanto os meus amigos odiavam e achavam bizarro o filme.
Ontem, adormeci com a música do Facas em Sangue na mente.
É usual acontecer quando, antes de abandonar a consciência, fiquei aninhado em concha com a minha amada, agarrado ao seu seio. Nós dois, num casulo tépido de Amor, traz-me à memória as palavras da letra do Adolfo inspirada nos versos do Jorge de Sena.
Um Amor cálido e que passeamo-lo pelas ruas deste país sem qualquer temor.
Às vezes, erguem-se vozes descontentes. Eu e a minha amada somos uma muralha de persistência e de fé inviolável na paixão e carinho que temos no nosso Amor e no furto que dele brotou.
Claro que existiram contrariedades e complicações, mas houve algo que permaneceu imutável: nosso abraço forte e contínuo.
Assim como a canção...


Vivia na temperatura tépida dos lençóis
Aquele que dava pelo estranho nome
De Amor.
Às vezes soltava-se
E percorria pela mão
Dos adolescentes ruas desertas, sombras
Escuras e conspiradoras - soltou-se
O Amor - alguém gritava.
E vinha o vermelho e invadia o vermelho
E assanhavam-se os gatos conscientes
Da invasão da sua noite
Solitária.
Depois apagava-se
A última luz da última janela e desaparecia
O Amor na tepidez dos lençóis.
Ficava a lua, ficava
O luar azul a reflectir perigosamente
Nas lâminas ensanguentadas
Dos adolescentes...

30/01/2008

A Oeste nada de novo

Hoje foi um dia cheio de emoções e novidades. Digo isto sem qualquer traço de ironia…se calhar, em relação às emoções estou a ser um pouco sarcástico.
Mas enfim, a Oeste nada de novo.

Iniciou o Ano Judicial. Eu fui ouvido num inquérito em Braga mas isso não é notícia como é óbvio. O Salão Nobre do Supremo Tribunal de Justiça não encheu para ouvir as minhas palavras mas sim as de Marinho Pinto, o novo bastonário da Ordem dos Advogados.
Palavras acertadas e condizentes com a realidade do país. Uma realidade que, segundo o Sr. advogado, vive cada vez mais de negócios obscuros e manobras de bastidores a custo do património e dividendos públicos. Palavras sábias; mas um apontar de dedo em vão dado o carácter inócuo e generalista das suas acusações. Trazer a conversa que temos no café da tertúlia não constitui efectivamente um passo para a melhoria da credibilidade da Justiça em Portugal.
Mas enfim, a Oeste nada de novo.

O relatório da Reprieve relata que 728 prisioneiros que estão na base de Guantanamo foram transportados com a conivência da jurisdição portuguesa. E isto com a conivência com o Estado norte-americano de fazer as coisas de: tortura de prisioneiros e o seu transporte ilegal pelo espaço aéreo de outros países. Mas isto é irrelevante se esses mesmos países permitem que, pelo facto dos EUA terem uma base militar no seu território, dá-lhes a autoridade para imporem a esse país a referida forma de fazer as coisas.
Este assunto já passou pelos noticiários portugueses anteriormente. Mas caiu no esquecimento do “não se passou nada e se se passou, nós não tínhamos conhecimento”. Que orgulho! Isto é que é à Estado soberano.
Por certo, e tendo em conta as vozes governamentais que se começam a levantar, creio que a desculpa será, se não a mesma, um pouco idêntica.
Mas enfim, a Oeste nada de novo.

O treinador Sócrates também entrou no Mercado de Inverno e, antes que ele encerrasse, já fez três novas contratações para substituir titulares no seu onze inicial que começam a apresentar sinais de lombalgias de esforço e saturação.
Mas Sócrates revela diplomacia e visão periférica. Estas são remodelações que permitem agradar às classes baixas (Saúde), bem como às classes altas (Cultura).
Sim, porque o bom funcionamento do SNS é do estrito interesse das camadas menos favorecidas da população que, devido ao seu orçamento reduzido, a gratuitidade e celeridade do funcionamento da Saúde afecta quem depois não tem as possibilidade de usufruir dos benefícios da oferta Privada. Por isso, este Ás que o Sócrates cedeu aos críticos.
As cabeças bem pensantes da sociedade portuguesa também precisavam de uma cedência governamental para poderem sossegar as hostes. Mas neste caso, Sócrates cedeu somente uma manilha.
Se bem que suspeito que não remodelou o que era mais importante: a política insensível para com os problemas das populações cada vez mais carenciadas e a castração dos parcos serviços públicos do país.
Mas enfim, a Oeste nada de novo.

28/01/2008

3 + 2 = 5 anos

No passado dia 25, eu e a minha mulher fizemos 2 anos de casados; ao mesmo tempo que fizemos cinco anos de iniciação à nossa vida conjunta.
Tem sido de tal forma conjunta que só no Domingo é que tive a possibilidade de me escapulir para poder arranjar a prenda que lhe ofereci – já com alguns dias de atraso.
Mas ela gostou e nós amamo-nos; e isso é que é preciso.

A Matança do Porco

Hoje estava a ver uma reportagem na SIC sobre uma Matança do Porco e da ameaça à sua extinção devido às exigências da ASAE. Recordei-me da primeira vez que vi uma Matança.
Foi nas traseiras da casa da minha tia paterna, perto da Batalha.
Naquele tempo, o porco foi morto à antiga: com o gume afiado da faca do matador. Ouvi dizer que agora matam o porco com um choque eléctrico no cachaço. Mas naqueles tempos menos assépticos que os correntes, aquilo foi uma festa para os sentidos.
As mulheres com os alguidares. Os homens com as mangas arregaçadas. A carrinha de caixa aberta que chega com o porco enorme amarrado com grossas cordas de sisal. O bicho relutante em descer e, ao aperceber-se da sua sina, a grunhir violentamente. Lembro-me de alguém ter tido um aparte de “cabrão do porco já sabe ao que vai” ou algo do género. O porco que guinchava. Os guinchos estridentes e que feriam os ouvidos. Os homens que se acercam do porco e o envolvem. A faca omnipresente. Caiu em cima da mesa tingida de sangue. A única mulher que se misturou na turba masculina saiu de lá com o alguidar cheio de sangue. Um sangue escuro e espesso, quase sólido. O maçarico liga-se. Aquele fooooo contínuo que preencheu o ar. Deu lugar ao intenso cheiro da carne queimada do porco. No interior da casa, o porco é esventrado de alto a baixo. Meu pai e a sua lição de anatomia através das semelhanças internas entre porco e homem. Os órgãos pendentes, deslocados, viscosos, reluzentes. Recordo-me de olhar para o gancho que segurava o porco e pensar quão frágil parecia dado a dimensão do bicho. Lembro-me de alguém que retalhava o porco com mestria. E foi ele que preparou as bifanas – a primeira parte do porco que comi. Ao pé do sítio onde o porco esvaía sangue, havia uma divisão mais pequena mas muito iluminada onde estavam as mulheres sentadas agarradas a tachos e partes internas do bicho. Foi minha mãe que me esclareceu que estavam a preparar os enchidos.
Memórias fugazes dado o tempo que já passou. Entretanto também não vi muitas mais.
Não sou daqueles tradicionalistas à força. Aliás, o progresso foi e é feito com base no quebrar das regras da Tradição. Mas algo que também acredito é que a excisão do Passado, como se ele nunca tivesse existido, é um contra-senso e nada benéfico para a aprendizagem dos povos.
Todas estas movimentações de regulamentação do sector alimentar, se não têm esse intuito, a ideia que passam através da sua subjectividade e exigência desmesurada é que são manobras de destruição do pequeno negócio, da pequena manufactura.
São os casos dos ataques velados de restrições à Matança do Porco. São as dificuldades levantadas às queijeiras familiares da Serra da Estrela. São as medidas europeias que interferem na conservação dos queijos secos do Mediterrâneo.
Tem de haver fiscalização e controlo de qualidade de forma a garantir, também, a saúde pública e qualidade final dos produtos. Mas não à custa da destruição da cultura de um povo.
Não sou tão exagerado como o Mendes Bota e apelidar a ASAE de “pides”. A mim eles parecem-me mais uma Tropa Avançada dos interesses económicos das grandes Corporações da Alimentação.

26/01/2008

“Uma chamada para si do país real, Sr. Presidente”


Na realidade são várias chamadas, lamento imenso tê-lo induzido em erro.
Mas na realidade tenho aqui várias chamadas em espera de cidadãos que querem ir à escola, que sentem uma dor mas não têm orçamento para ir ao Hospital mais próximo que fica a 45 minutos de distância…
Veja lá que tenho aqui uma alminha que quer falar consigo porque não quer ir de noite, no escuro, numa estrada de montanha, de urgência para a localidade vizinha que fica só a 10 km, com o argumento de que a viagem é complicada.
Tenho aqui também imensas chamadas em espera de cidadãos que se sentem abandonados pelo Estado ao qual lhe pagam os impostos e que, em contrapartida, recebem custas de tribunal, taxas moderadoras, SCUTs que deixam de o ser; isto para pagar estradas de má qualidade, atendimento médico que não existe ou com filas de espera irreais e aquela sensação de insegurança pública sem acreditar que as autoridades podem fazer realmente algo.
Tenho também aqui uma chamada em espera de um cidadão que o quer felicitar pelo bom serviço que lhe foi prestado quando cortou o seu próprio dedo e foi muito bem atendido no Hospital da sua residência. De facto é verdade: é por estas chamadas que vale a pena vir trabalhar todos os dias, não é Sr. Presidente.
Desculpe, lamento imenso, mas tenho aqui em espera a chamada daquele consórcio que aguarda adjudicação para começar a construir o Hospital Privado naquela localidade onde encerrámos há pouco o SAP. Eu podia passá-lo à frente na fila de espera mas dado o teor da conversa, o melhor é pedir-lhe que ligue para o seu telefone pessoal.
Sr. Presidente, eu sei que provavelmente não quer saber disto. Mas, tenho aqui uma chamada em espera de uma criança por nascer que está indecisa e insegura com o facto de se valerá a pena passar à condição de bebé português, tendo em conta o misto de aflição e alegria que a sua vinda está a causar nos seus futuros pais.

Esta é para o nosso Presidente, o nosso Primeiro, o nosso Ministro da Saúde, o nosso Presidente do INEM.
Uma vez, um dos meus assistentes passou-me uma chamada do presidente do INEM que reclamava com o facto da previsão de entrega das nossas encomendas serem entre as 9 e as 13 porque ele, como presidente do INEM (ele fez questão de o referir diversas vezes durante a chamada) não podia estar à espera tanto tempo para receber um telemóvel e exigia que fosse acordado uma hora exacta de entrega e que pudesse ser recebida pela sua secretária porque ele era uma pessoa muito ocupada para estar a conviver ou combinar coisas com estafetas. Sim, porque nós, os portugueses de 2ª e 3ª categoria, podemos esperar 45 ou mais minutos para sermos dados como mortos; mas tal não se pode aplicar para os portugueses de 1ª categoria que nem um segundo podem aguardar por qualquer serviço que seja.
Isto não é somente sobre o INEM; é sobre todos os snobes no topo do cadeirão que, infelizmente, a sua arrogância não lhes permite vislumbrar as dificuldades que o comum cidadão passa para poder sobreviver, quando, ainda por cima, lhe retiram os poucos direitos e garantias que têm.

P.S.: No dia 14 de Janeiro de 2007, um responsável do INEM a prestar declarações no seguimento do caso do atropelado em Odemira que demorou 6 horas a ser transportado para Lisboa disse à TSF, basicamente o seguinte: os cidadãos que não estão nas grandes cidades (Lisboa e Porto) não têm, naturalmente, o mesmo acesso a serviços médicos... O mesmo se passa em países desenvolvidos e referiu que uma situação semelhante numa região remota da Austrália ou no norte da Noruega teria os mesmos resultados.
Não sei porquê, não me caiu bem esta lógica de pensamento da parte de um responsável por uma unidade de socorro a vítimas.

PJ Harvey Unplugged

Antes de mais devo avisar que PJ Harvey é uma das artistas que sempre admirei: tanto pela melancolia da sua lírica como da originalidade dos sons que saca dos instrumentos. Conheci-a com uma gravação manhosa do “Rid of Me” em K7, de tal maneira que tinha que a ouvir quase no máximo do volume e, para quem sabe do que estou a falar, tal é necessário devido ao pêndulo de serenidade e agressão na música da PJ.
Dito isto, acabei de ouvir o “White Chalk” e, apesar do nome, acho um álbum negro na sua composição.
Aliás, mantém-se a melancolia e misantropia na linha condutora das letras, se bem que a Morte está mais presente, apesar de fugaz nos anteriores – disso é bem evidente no excelente To Talk To You. Por arrasto, a sua vocalização continua serene e soturna, polvilhando-a, de quando em vez, com os característicos gritos de desespero.
Na composição musical é que está o grande corte com o passado. É um álbum mais suave com muitas influências da folk americana, no qual a guitarra eléctrica e o rock anterior desapareceram por completo; sendo substituídos pelo - já antes existente mas neste álbum mais presentes - piano clássico, pelo banjo, pela harpa, pela harmónica, pelo violino. Estes e outros conferem uma aura de serenidade e contemplação às músicas. As temáticas repetem-se e reformulam-se mas aqui são revestidas por uma harmonia mais campestre.
Minimalista, desafinado, melancólico, escuro, monocórdico, reverbera como um disco antigo, como se os instrumentos estivessem rodeados de eco. Foi a impressão com que fiquei no final da audição do "White Chalk".
É um disco original se considerarmos a discografia da PJ e original devido à sua produção. Mas, apesar de gostar do álbum e considerá-lo muito cativante, se a tivesse conhecido por esta amostra não seria o admirador que sou hoje.

25/01/2008

Showbiz Politik


Mais do mesmo.
Só um país como o nosso tem um político como o Paulo Portas. Afinal, sempre é verdade que cada país tem os políticos que merece. Basta olhar para os líderes partidários, seus porta-voz na Assembleia da República e constatamos essa veracidade.
Mas quanto ao PP, é incrível que depois do “venha cá bater”, da romaria pelas Feiras, de pintar a manta como ministro, da pancadaria em Óbidos, de passar a ser o “partido do contribuinte”, eis que vem agora esta do inquérito ao Banco de Portugal no caso do BCP.
Mais uma medida para povão ver, a tentarem afagar a costela simpática dos pobrezinhos e dos coitadinhos do país para um bando de snobes quezilentos que ocupam os conselhos de administração das grandes e pequenas empresas nacionais; as mesmas empresas que têm vindo a decidir e contribuir para o aumento da precariedade e instabilidade do assalariado e, por arrasto, a diminuição do nosso poder de compra e qualidade de vida.
Mais do mesmo.
O espalhafato com que vive e sobrevive na política é surpreendente somente para quem não nasceu e cresceu neste país. Posso dizer que já fui a muitos cantos do nosso rectângulo e posso dizer que a grande maioria das localidades tem o seu pavão a passear pelos jardins; mas o mais frondoso e engalanado é o que está de asas abertas à direita no hemiciclo.

24/01/2008

25

O doce linho
que pinta a paisagem em socalcos de tecido maninho
Os lânguidos dedos que desenham na areia
vales e elevações do horizonte
que é fertilizado diante meus olhos
Toda esta beleza dos anos a espraiar
como botões silvestres a desabrochar
da flora na silhueta do corpo duma mulher
Teu ventre
a suavidade da lonjura que eu almejava e agora posso abraçar
que nem o errante sem destino
que encontra a sua bifurcação oculta debaixo da luxúria de um corpo feminino
para desvendar no seu interior
o sereno e revolto amor
É a chaga bendita
É a vergastada em benesses perfumadas
É o golpe fundo cravado que desejo gretado para toda a eternidade
A marca
o beijo
que fez ti o meu cais

23/01/2008

Canibais


Os frémitos bombos das tribos da selva
penetram nosso refúgio
Sangue esmaecido de contra o torpor das pulsações desta cave
que alberga bocas ofegantes
A guitarra
monocórdica
a aumentar seu estrondo
ciente dos corpos magnéticos
cujos pólos se cutucam ao de leve
Tu
reptilínea
volteias por entre os obstáculos da sala
com teus olhos vítreos
fixados na tua presa
Teu ardor
teu fulgor
o teu arfar incandescente
ateia as nossas vestes
reduzindo a cinzas
o aroma pudico a círios
que enevoava nossas cabeças
De repente
agarras
comprimes
empurras
opressão
Líquido
líquido
oiço o escorrer da paixão
As garras felinas
as mandíbulas sedentas
o melífluo corrupio
a meia-lua carmim que decora tua coxa
Albergue
a armação
ergue
tu
o mausuleo
os píncaros de tua cordilheira recebem meus dentes
As plumas
torneiam no ar
as faixas envolvem os corpos
unidos
mesclam-se
transmutam-se
o sexo afunda-se
perde-se no abissal maelström final que revigora
Faces
esgar em crise
pele estica
elástica
plástica
Tu que me sorves a boca
Os seios que afagam indómitos a secura da minha nascente
O arfar
o calor a culminar
iminente
Não
Não vou capitular
Eu não vou capitular
Não vou capitular
Não vou capitular
Não vou capitulaaaaaaaaaaarrrr
Dor
Fôlego
Palavras mudas
Os duelistas
e os despojos da paixão
quedos
Estou
a esvair-me em amor por ti

22/01/2008

Palavras Económicas


Globalização económica. Subprime. Crise na bolsa. Revisão em Baixa. Queda do principal índice. Corte das taxas de juro. Euribor. Recessão nas vendas. Empréstimos imobiliários. Analistas. Investidores. Petróleo acentua perdas. Correcção dos mercados.
22 de Janeiro de 2008, um dia pejado de frases indecifráveis para o cidadão do dia-a-dia mas que são claras em preverem algo que a economia global já nos habituou nos últimos anos: aumento dos preços; estagnação dos rendimentos; contínua precariedade da nossa qualidade de vida.
Avizinha-se a baixa de temperatura no Inverno do nosso descontentamento no ano de 2008.

Num outro aparte, é engraçado e perturbador ouvir as figuras fortes da economia nacional a considerarem “excessivo” a intervenção estatal face à crise de hoje e as medidas para amenizar os seus efeitos. Como se os apoquentasse a ingerência inaceitável do Estado na Economia de Mercado.

A Volta ao Mundo em 80 Vinhos

No dia...aliás, na noite do meu aniversário, fizemos uma prova de vinhos. Não fui eu que os comprei como é óbvio porque o meu orçamento dá para comprar os vinhos do Minipreço e, de quando em vez, em dia de festa, compra-se um Marquês de Borba para festejar com a minha amada.
Como dizia fizemos uma prova de vinhos com representantes de vários pontos do globo. A ver se eu me consigo recordar de todos... Califórnia, Chile, Pernambuco, Itália, Austrália, Argentina, Castilla y Leon, Douro e Alentejo.
Nesta viagem vitivinícola demos várias voltas ao Mundo e aos aromas do suco de Baco, visitaram-se outras regiões e outras degustações. Mas, por mais voltas que se dê, a conclusão final é expectável. Talvez por habituação, talvez porque são efectivamente vinhos bem elaborados, a melhor prova foi a do final, quando se bebeu o Alentejano.
Gosto muito dos vinhos nacionais e é muito raro beber vinhos de outras regiões. Apesar de, durante o Verão, beber vinho branco leve, a minha predilecção vai para o vinho tinto.
Só há 3 regiões que compõem usualmente a minha garrafeira: Dão, Douro e Alentejo – com clara vantagem para esta última.
Actualmente – e numa lógica qualidade/preço porque os tempos que correm não estão para os ajustes – há 3 representantes de cada uma das regiões vinícolas que adornam a minha mesa de jantar.
São eles:

Casa da Capela (Douro),



















Quinta do Cabriz (Dão)















e Herdade do Penedo Gordo (Alentejo).















Todos de 2004 e recomendo-os a todos.
Recordo-me de um filme que vi o ano passado sobre esta temática, de seu nome Mondovino, que é um documentário muito interessante. Aborda mais a temática das guerras comerciais e de influência cultural entre as maiores regiões produtoras de vinho no Mundo e é interessante o espelho da rivalidade entre as principais famílias do Napa Valley e da Bourgogne: como os americanos abraçam o fabrico do vinho e assumem sem rodeios o seu carácter de negócio industrial, em contraponto com a visão tradicionalista do patriarca da família borgonhesa.























É também deste patriarca o aforismo mais bem tirado de todo o filme: "Où il y a de la vigne, il y a de la civilisation. Il n’y a pas de barbarie." Hubert de Montille (Volnay). É bem capaz de ter razão o velhote. O próprio acto de sabermos como plantar, vindimar, produzir, engarrafar, envelhecer, degustar, comercializar um bom vinho; de transformarmos uma arte num negócio, um prazer gustativo numa cultura, é a prova de que somos uma civilização mundial.
Afinal, há Vinho em qualquer ponto do Mundo.

Afición pelo Tabaco


Já se está mesmo a ver o aumento da Afición em Portugal.
Ao nível estatal, olha-se para os fumadores como César via os Romanos e dão-lhes "Pão e Circo"; no caso nacional, Tabaco e Touros e/ou Bola.

20/01/2008

32


E pronto!
Já acabei de fazer 32 anitos.
Passei-os com a minha família. Com pessoas que gosto e amo. A minha filha gostou da festa apesar de não perceber o motivo. A minha mulher estava feliz e contente - se bem que esqueceu alguns momentos da festa. Dois grandes amigos, que não vejo há muito, telefonaram-me à meia-noite, o que foi uma prenda bastante agradável. De todas as minhas prendas somente duas não foram garrafas de vinho - será que quer dizer algo?!
Trinta e dois anos. Até daqui a 365 dias.

18/01/2008

Cimeira Ibérica em Braga

Sócrates vaiado em Braga

Vaias para Socrátes – nada de novo.
Espanha a ser benemérita para com os parcos recursos tecnológicos em Portugal e aceitar que o Laboratório Internacional Ibérico de Nanotecnologias seja no norte do país.
Ainda falam de Olivença como se tal fosse uma questão pendente. Claro que é uma questão pendente! Os restantes portugueses querem ser tão afortunados como os de Olivença o foram em 1801.
Portugal e Espanha tencionam aventurar-se num projecto para a construção de um green car. Acho muito bem. Já agora sugiro mais medidas para que o país não seja tão petróleo-dependente. A rede ferroviária para transportes de pessoas e mercadorias (principalmente destas últimas) tem de ser amplificada e dinamizada de forma a diminuir a imensidão de veículos pesados que açambarcam o nosso asfalto. A energia eólica e a fluvial são limpas e nacionais.
Já agora, e talvez devido ao atrás exposto, sabiam que durante a hora de ponta não há táxis em Braga. Exactamente. Liga-se para a rádio-táxis e não nos respondem que vai uma “viatura fazer o serviço” em x tempo. Não. Respondem que “não temos táxis”. O que vale é que têm TUB e lá deu para voltar a casa com a menina.

17/01/2008

A Luxúria e a Besta


A primeira vez que fui confrontado com a obra de H.R. Giger foi no filme Alien, na composição que fez para o monstro negro que caçava os humanos com a sua língua mortífera. Seria quase uma metáfora à concepção visual que Giger tem das suas obras.
Sendo um surrealista contemporâneo, no meu entender, foi o pintor que melhor soube captar e dar imagem aos estilos musicais extremos da década de 80 e do início dos 90’s. Foi o caso do punk, do metal. Foi também ele que influenciou o visual de muitos filmes de terror da década de 80 – época de grande propensão do género.
Isto porque, quando vejo as suas criações de paisagens e humanóides disformes e negros, com as vestes bélicas e biomecânicas, transmite fascínio em vez da repulsa que seria de espera dado a descrição.
O método da pintura é belo e cativante. As poses evidenciadas são de uma luxúria agressiva da qual não consigo escapar dado o arrojo e ausência de limites.
Depois do filme, quando comecei a conhecer a pintura, as telas tinham brilho e eram sensuais. Mesmo quando a temática era violenta, sempre havia uma aura de sedução em seu redor.
Ainda hoje quando as revejo sinto esse misto de luxúria e brutalidade. E, apesar do sangue ser vermelho, as telas mais apelativas são aquelas em tons de preto.
Como é caso desta. Nela vê-se a Penetração, o Falo, a Lascívia, a Agressividade, o Brilho...

16/01/2008

TYG a 59%

Ouvi o último dos The Young Gods e posso dizer que é o primeiro que oiço deles e não considero uma obra-prima.
Toda a sua discografia é uma reunião de feitos de excelência no renovar das forças electrónicas da música. É deles uma das melhores canções fabricadas: “Moon Revolutions” presente no álbum em que os conheci, Only Heaven.
Mas este último, Super Ready / Fragmenté, peca por revelar já a usura dos tempos que por certo perpassa pelas mentes dos três semideuses. São as teias de aranha que afectam a qualidade e a genialidade da imaginação de muitos dos meus ídolos musicais da adolescência que ainda editam.
Mas este último, tendo algumas canções deveras cativantes, no seu geral não passa do aceitável: uma característica à qual não estava habituado a atribuir aos TYG.
Mesmo o álbum anterior de originais, Music for Artificial Clouds, que era uma autêntica inversão ao som TYG, foi genial nas suas criações como pequenas palpitações suaves que me deliciaram na audição da sua instrumentalização – ou seja, apesar da ausência de um dos melhores factores dos TYG (a voz de Franz Treichler) continuava presente a beleza das suas criações.
Mas este último, tem uma produção de bateria demasiado in your face, quando o que fascinava nos TYG era o facto de a bateria não parecer uma bateria; e – o que mais me desilude – a voz já não tem a pujança, nem a lírica tem a verve e o misticismo de outrora.
Apesar disso, nem tudo está perdido: ainda apresenta canções fascinantes como Secret, Cést Quoi C’est Ça, Everythere, o que faz com que, de quando em vez retome a sua audição.

15/01/2008

Meu Pai e o Cinema

Apesar de alguns dos nossos recentes desaguisados, tenho de fazer aqui um hats off ao meu pai pela sua capacidade em ter conseguido instruir alguma da sua cultura em mim.
Dele aprendi a gostar de um certo tipo de música portuguesa, de alguns dos seus ideais, mas hoje, enquanto me preparava para me sentar no sofá, recordei alguns dos filmes que mais gostei de ver e constatei que três deles me foram apresentados por meu pai.
É um facto que dele retirei mais do que três filmes e que continuo a gostar deles, tal como os filmes em causa. Mas, esses três filmes, foram aqueles que me foram apresentados enquanto ainda era um pré-adolescente e, já na altura, tive a mesma reacção e interpretação que ainda hoje se assoma de mim quando os revejo.

Os filmes em questão foram:

O Bom, o Mau e o Vilão (o meu pai sempre gostou de um bom Western e este é o melhor deles todos);









Voando Sobre um Ninho de Cucos (seu eterno fascínio pelo Nicholson);










O Homem que Veio do Espaço (que mais tarde vim a conhecer pelo seu título original).











Quando estou no carro e oiço, por exemplo, o meu CD dos “Corações Felpudos”, a minha filha está atrás de mim, sentada na sua cadeirinha em silêncio e eu, conduzo, esperançoso de estar também a passar um legado cultural.

Conjuntivite parte 2

Conjuntivite

A minha filha está com conjuntivite.
Apesar da sua tenra idade, já é a segunda vez que apanha conjuntivite. Da primeira vez (já não me recordo) julgo que já estávamos em Braga.
É desolador vê-la com aquelas ramelas esverdeadas espessas e peganhentas agarradas aos olhos.
Ontem à noite estava mais grave, de tal forma que nem conseguia abrir os olhos como se tivesse uma película de cola Pattex entre as pálpebras. A primeira vez que detectei tive de as separar com os dedos; da segunda vez, já foi o amor maternal a actuar. Passo a explicar: a minha mulher chegou ao fim da noite e a minha filha ao ouvir a sua voz, fez força de tal forma que conseguiu abrir, sem qualquer auxílio, os olhos para a poder vislumbrar.
Hoje está melhor, embora ainda lacrimejante. Acresce o facto de estar ligeiramente constipada, o que tudo junto retira-lhe o apetite e aumenta a sua sonolência. Este último sintoma é mais sobressaltante porque, habituado que estou a que seja irrequieta, dou por mim constantemente a controlar a sua respiração.
Agora, está aqui a brincar com os seus bebés e as suas estórias; a fungar, a lacrimejar mas já indiferente à sua doença.
Ontem até estava consciente da sua doença e dizia “dói, dói, olhos” a apontar para eles. Tivemos de ir às Urgências.
Após o diagnóstico, eu próprio fui induzido a sentir comichão nos olhos – tal é a influência sugestiva da mente.
Somente comecei a frequentar os Hospitais públicos com alguma regularidade após ter sido pai. Primeiro, foram as Urgências do D. Estefânia. Actualmente, são as do S. Marcos. Já fui bastantes vezes mas posso afirmar com alguma segurança que só uma deles foi durante o dia.
Ontem, invariavelmente, foi a altas horas da noite. Apesar do avançado da noite, ainda tivemos de esperar quase uma hora até estarmos, por assim dizer, despachados.
Como antes da minha paternidade eram espaços que não frequentava com regularidade nunca tive a impressão do contexto que tenho hoje. Identifico certos lugares-comuns que, na realidade, são personagens-comuns às Urgências nacionais. Seja no norte ou no sul, no campo ou na cidade, sempre que lá vou deparo-me com uma mãe ou pai cigano que lá está com um filho, arrastando atrás de si toda a família e o amontoado de roupa. Outra personagem-comum é o viciado. Se na Estefânia, a embriaguez era alcoólica na pessoa do pai bêbado; no S. Marcos, ela é resultante dos estupefacientes.
Ontem, lá se repetiram novamente: a mãe romena com o seu recém-nascido; o casal adolescente de agarrados e as suas misteriosas movimentações. Curioso como a História repete-se a si própria com leves desvios nos seus matizes coloridos.

O meu Monte dos Vendavais


Eu vivo na província da paisagem
Na encosta do monte onde os Santos pernoitam no seu topo
Onde as
clandestinas
casas da antiga aldeia
são violadas na sua fealdade pelos emergentes prédios de rendas astronómicas
Onde as linhas de alta tensão
cruzam a localidade inclinada
e os seus postes metálicos servem de adorno central às rotundas toscas e abandonadas
na incauta circulação automóvel
as trepadeiras reclamam para a mãe-Natureza
a electricidade forasteira e invasora
É certo que lá em baixo no vale
jaz plácido e acolhedor
o hipermercado contestado
e as suas lojas entreabertas
mas aqui
o Horizonte é um Pico
pejado de putas e sodomitas
vislumbrados na esquina
à sombra do Bairro Social camarário
de tal forma abjecto
que é ele próprio enlapado
por ilegais barracas de tijolo e cimento
Aqui
as ruas são uma tapeçaria de tosca calçada cinzenta
e asfalto ondulado
Aqui
a chuva não sendo uma constante
as suas poças a adornar o soalho
saúdam
ininterruptas
os incautos à porta da colectividade dos trabalhadores
Ontem
a noite foi recebida com os ventos
como vagas de contra o paredão da encosta do monte
e assim permaneceu durante todo o dia
aquele silvo que nem estática num rádio
aquele ribombar do ar gélido
aquele vendaval aflito
a comprimir os nossos corpos unos
contra a intempérie de vozes e o chilrear exterior
A minha mímica debaixo deste tecto apodrecido
apaziguada pela tua férea vitrina
na caverna do nosso ninho

13/01/2008

Contrastes pictóricos

"El Gran Masturbador" por Salvador Dalí em 1929

Como um singular mas apoteótico momento na vida de alguém conduz a emoções tão díspares como contraditórias.
O Desejo e o Nojo. A Paixão e a Morte. O Sexo e o Deserto. A Beleza e o Cadáver. O Mole e o Rijo. A Natureza e a Seca.

11/01/2008

Thank you, for not smoking!


Estava a guardar este comentário para quando me ocorresse algum episódio caricato relacionado com a nova Lei do Tabaco – a minha mulher é uma orgulhosa fumadora e é inevitável que tal episódio suceda. Se bem que andarmos pelas ruas de Braga em busca do precioso dístico azul à porta dos cafés é caricato o suficiente.
Também é irónico ver os neo-drogados a fumar cigarros à porta dos cafés debaixo dos toldos. O facto da Lei ter sido instituído durante o Inverno foi uma boa ideia do Governo de forma agravar a insatisfação de fumadores privados da sua liberdade e de empresários da restauração e entertenimento diminuídos dos seus rendimentos.
Eu não fumo. E acho que a proibição de se fumar em recintos públicos fechados acertada. Já o facto dessa Lei ser imposta a espaços privados e aos seus proprietários parece-me uma ingerência estatal no espaço pessoal e livre dos cidadãos.
Mais, tenho a ideia que estas restrições são importadas de um modelo americano cuja cultura e relação com o tabaco (e outras drogas legais e ilegais) em nada se assemelham com o verdadeiro laisser-faire da cultura europeia.
Lamentavelmente, esta Lei prepotente não é uma realidade exclusivamente nacional. No civilizado Mundo Ocidental multiplicam-se estas manifestações de tudo legislar num objectivo de criar um Super-Estado Policial que tudo controla, que tudo vê, que interfere em tudo que seja a esfera intíma do ser humano.
As leis da Comunidade Europeia já antes fizeram tabula rasa de toda uma tradição gastronómica de cada país, e em particular os mediterrânicos, legislando uma milhena de condições que tornaram virtualmente impossível a sobrevivência da pequena e familiar confecção alimentar.
Falo disto porque isto é apenas um factor deste tsunami legislador que afecta as nossas sociedades com a sua mentalidade reaccionária e conservadora.
O seu lema: Hoje o Tabaco, amanhã a Mentalidade!

10/01/2008

Ota, Mon Amour




A minha mulher recordou-me de umas declarações passadas de um certo ministro das Obras Públicas.
Ora, o mesmo ministro que disse que a construção do novo aeroporto na Ota era uma decisão final, foi o mesmo que afirmou que a estação de Metro no Terreiro do Paço é perfeitamente segura.
Não quero ser sofista nesta associação de ideias, mas tendo em conta os numerosos actos de contrição que o nosso ministro esteve a fazer nos meios de comunicação social durante o dia hoje, como bom samaritano que sou, vejo-me forçado a aconselhar os utentes do Metro lisboeta para que evitem a linha azul, principalmente nas suas estações terminais junto ao rio.
Mas apraz-me que esta novela camiliana do novo aeroporto tenha chegado por fim ao seu término. Salvo seja, porque até que a primeira pedra seja colocada muita água vai passar sobre as (futuras) três pontes de Lisboa; muitas reavaliações orçamentais vão ser projectadas; muitos redimensionamentos das instalações aeroportuárias vão ser desenhadas; e, ainda existe muita privatização para fazer a Sul, e a Norte do Tejo.
No fundo, não sendo técnico, e como uma opinião antropológica para esta localização é irrelevante, julgo que foi a melhor alternativa. Como disse, não tenho nenhum argumento que legitime a minha opinião, a não ser que, nesta alternativa falamos de uma povoação com raízes alentejanas e que, como mais-valia, fica mais próximo de Espanha e assim sendo sempre dá para ir ao outro lado da fronteira comprar o combustível para as aeronaves mais barato.
A construção do novo aeroporto vai também gerar mais riqueza e postos de trabalho. Como a sua localização será ainda mais próxima da capital é mais um factor a funcionar como íman para os restantes portugueses migrarem de vez para as grandes cidades.
Depois do encerramento das maternidades, das urgências nos Centro de Saúde, das escolas, de secarmos por completa qualquer compensação para viver no interior ou mesmo numa cidade com menos de 200 mil habitantes, podemos fazer à la Pol Pot, mas ao contrário: confinamos a população portuguesa a Lisboa e Porto; o resto passa a ser efectivamente Paisagem.
Para além do mais, as muralhas na fronteira já há muito que são inócuas. E assim, tornamo-nos, finalmente, numa grande nação ibérica. Agrada-me passar a ter um nível de vida semelhante a um espanhol. E que não seja somente os aeroportos, o que tenhamos em comum.

09/01/2008

Referendar ou não referendar, eis a questão


Referendo? Só se outros fizessem

Até parece uma discussão dos putos na escola:
«Então, Zézito!? Tu dissestes qu’iamos a votos, pá!»
«Nei pó, Chico! Eu disse se fosse para o Tratado Constitucional. Agora, pó Tratado de Lisboa não é preciso, man. O de Lisboa já é nosso. Por isso já cá mora, man.»
«Nã, nã, pá! Tu dissestes que votávamos, pá. E, tá dito, tá dito!»
«Népia disso! Arrebenta a Bolha! Arrebenta a Bolha! Ou é como eu tou a dizer ou acaba-se já a joga. A bola é minha e bazo já pa caselas se não brincamos como eu digo, man…»
O mais ridículo nem é a infantilidade dos argumentos; o triste é que parece que o Rufia do recreio da escola metamorfoseou-se em político que, para além de nos extorquir as moedas do lanche, ainda goza connosco ao nem se esforçar para nos enganar.
Mas, se calhar, no fundo o Rufia é que terá a razão. Porque a temática é de tal forma tecnocrática e distante do nosso quotidiano, que nós, as frágeis vítimas do recreio nem nos importamos que a decisão fique confinada entre as paredes marmóreas do hemiciclo.
Afinal, pagamos-lhes para quê?! Por certo não será somente para que se divirtam ao sobe e desce dos impostos. Também têm de decidir sobre estas questões menos cativantes e news friendly. Eles que decidam sobre o que vai ser o jantar que eu não me importo de o cozinhar.

08/01/2008

O Subúrbio de Springsteen

A minha educação musical iniciou-se num Natal infantil no qual os meus progenitores me ofereceram uma K7 do Born in the USA do Bruce Springsteen.
Desde então sempre gostei do Boss.
Recordo de uma vez (talvez a única) em que vi um video-clip ou um documentário cuja música era o Born in the USA e que estava legendado com a letra. Foi nessa altura que me apercebi que, contrariamente ao que o título indicava, a temática da canção era muito menos patriótica do que eu julgava. Foi também aí que comecei a ver o Boss como um cantor de intervenção e a admirá-lo por isso.
Mas, independentemente disso, sempre gostei do Boss.
Uma vezes com maior fervor, outras com menos intensidade, sendo uma delas aquando do lançamento do The Rising com o qual sinceramente não me identifiquei pois não falava com nenhuma das características do meu Ser.
Sempre considerei as suas canções de suburbano norte-americano espelhos dessa mesma condição de suburbano. Uma condição que eu nunca reneguei e que sempre considerei como uma das minhas qualidades identificativas.
E aquela muralha sonora da E-Street Band é um Rock (agora) domesticado mas que complementa perfeitamente a voz e as letras do Boss. Sendo todos grandes músicos e uma autêntica orquestra que ao primeiro acorde atiram com o seu cartão de visita que faz com que todos saibam que estão a ouvir Bruce Springsteen & the E-Street Band.
Também gosto do Bruce Springsteen como trovador da folk norte-americana presente em álbuns incríveis e monumentais na sua simplicidade como são o Nebraska ou o The Ghost of Tom Joad. Lembram um western plácido mas de um cowboy que veio para os néons e casinos da cidade.
No passado Natal, recebi o último álbum Magic (agora em CD-digipack).
Constatei com agrado que a Muralha Sonora regressou mais velha mas com a mesma pujança de antigamente. Continuam a funcionar como uma máquina una e bem oleada, que vão num ápice da delicada melodia ao rock de encher o ouvido.
A canção de abertura entra logo a matar, o que é especialmente gratificante para alguém que já estava com saudades como eu.
No entanto, há duas que gosto especialmente: I'll Work For Your Love e Long Walk Home.
A primeira é a incansável canção de amor.
A segunda é a eterna temática do regresso a casa e do subúrbio de New Jersey recheado de italianos, judeus, negros...
Eu também sempre me achei um suburbano e com orgulho dessa condição.
Claro que o meu subúrbio a norte de Lisboa não tinha a diversidade étnica do subúrbio de Springsteen, mas sempre teve um aspecto em comum: a 'cúmplice não-pertença à comunidade'.
Ou seja, na comunidade onde vivi e cresci muito poucos podem dizer que “são” desta terra. Quase todos são de uma outra terra na província. Por esse motivo, por ninguém ser da terra onde vive havia sempre aquele distanciamento que impedia a amizade mas, como ninguém podia reclamar para si o título de autóctone, ao passar recorrentemente pelo talho na esquina do meu prédio podia entrar livremente no seu interior que seria acolhido com moderada cordialidade e com a entreajuda própria de imigrantes na própria terra.
Ao ter-me mudado para a aldeia foi a diferença que mais senti.
Comecei a sentir a desconfiança dos filhos da terra face à minha presença porque, apesar de toda a minha vida ter sido um estranho na terra onde resido, somente na Aldeia é que comecei a ser tratado como um estrangeiro.

07/01/2008

Braga 17:43

Agora não é desculpa... Tenho tido uns dias/semanas/meses caóticos, quase dignos de um filme mau, das antigas sextas à tarde da TVI.
Portanto, isto é mais um Ponto de Situação do que se tem passado no geral:
casei-me com uma mulher magnífica (se tal não fosse, não nos conseguiríamos completar);
tive uma filha linda, linda, que fez recentemente 2 anos;
mudei-me para Braga, que é um Cu de Judas frio e aguado;
subi de escalão no emprego e agora lidero uma equipa de cerca de 20 pessoas;
estou a aproximar-me dos 32;
estou também com Termo de Identidade e Residência (TIR) por ser arguido num caso de agressão, que eu espero que se venha a provar a minha inocência.
Todos estes factos condicionam um pouco a minha felicidade, uma vez que vejo goradas algumas das expectativas que tinha para o meu futuro. No entanto, são decorrentes das escolhas que tomei no percurso da minha vida.
Os episódios recentes tornaram-me mais cinzento e desconfiado em relação às pessoas. Mas há algo que persiste:
A minha esperança e objectivo continuam a ser a minha Felicidade e a dos meus.