29/03/2008

Linha do Tua e Earth Hour

Gosto de comboios e a beleza da Linha do Tua justifica esse gostar.
O facto de estar planeado o fim de uma das mais emblemáticas e, ao mesmo tempo, ícone da implementação pioneira do caminho-de-ferro em Portugal, leva a que adira à petição desenvolvida pelo Movimento Cívico pela Linha do Tua.
Algumas das suas propostas são irrealistas e não sou, nem nunca fui, contra as barragens. Mas, a importância e a beleza poética de um comboio a romper por entre as encostas do Nordeste Transmontano na Linha do Tua, são imagens que considero mais vantajosas de se preservarem.
Aconselho a visita ao link abaixo e, caso concordem comigo, que assinem a petição.
http://www.linhadotua.net/3w/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1

Este Sábado, dia 29 de Março, vai decorrer em vários pontos do globo o Earth Hour.
Durante uma hora, 60 minutos das 8 às 9 da noite (hora local), vamos apagar as nossas luzes, desligar os nossos electrodomésticos, não usar electricidade, vamos manifestar a nossa preocupação pelo aumento da temperatura global e as repercurssões negativas que estão a causar no nosso Planeta, bem como para o futuro dos nossos filhos.
A consumo desenfreado de energia, principalmente nos ditos ‘países desenvolvidos’, contribui para as emissões de calor para a atmosfera e o aquecimento generalizado do globo. O Earth Hour espera com esta “não-produção de energia” reduzir a emissão de CO2 para a atmosfera. No ano passado, cujo evento ocorreu oficialmente somente em Sydney, conseguiu-se uma redução de 10,2%.
Portugal não vai participar oficialmente do evento, por esse motivo, a participação nesta redução será mais um protesto simbólico de alerta para este problema mundial.
De qualquer das formas, a minha família irá participar com um belo jantar à luz das velas durante essa hora.
Juntem-se a nós.

27/03/2008

Genérico de "V - A Batalha Final"

Séries de Televisão dos 80’s

Ontem, enquanto esperava pela minha mulher que tinha ido à lavandaria, estava a dar uma olhadela pela Fnac pela secção das Séries.
Existem muitos packs de temporadas completas das Séries do momento, das quais existem muitos exemplos de qualidade – aliás, dentro da temática da dramaturgia mainstream actual, criam-se obras mais interessantes na televisão do que na 7ª arte hollywoodesca. Mas nesse dia o que captou o meu olhar foi o pack da primeira série completa de “V – A Batalha Final”.
Já não me recordava dessa série que preencheu o meu imaginário nos sábados à tarde da minha infância. As naves dos extraterrestres (que mais tarde foram replicadas no filme “Independance Day”). O fascínio pela tecnologia avançada dos extraterrestres. A beleza das fêmeas extraterrestres; principalmente da Diana, que nos 80’s, nós putos considerávamo-la “podre de boa” até ao episódio em que a vimos engolir um porquinho-da-índia e aí a tesão foi-se. Aquela sensação de conspiração que o casal de protagonistas incutia sobre os extraterrestres e que só com o avançar da série nos apercebemos dos seus reais motivos. O nojo que me causava aquela pele humana falsa a pender da face de réptil dos maus da fita.
Gostava muito de ver o "V – A Batalha Final" e tive pena de não ter visto o seu final.
Outra, que infelizmente não vi o seu fim, foi a série de anime, “Conan, o Rapaz do Futuro” do brilhante Hayao Miyasaki.
Mas com esta, a influência foi mais intensa e marcante no meu imaginário.
Primeiro que tudo, continuei sempre a seguir a obra de Miyasaki, um dos clássicos mestres da animação nipónica que já o era antes do seu boom no início da década passada. São igualmente excelentes os seus filmes: “Princesa Mononoke”, “A Viagem de Chihiro”. O seu pessimismo ecológico é transversal a toda a sua obra e como ele se mescla com as suas criações espirituais, contribuíu também para a minha admiração para além do seu traço cativante.
Foi também “Conan…” que contribuíu para o meu gosto pela temática do apocalíptico. Recordo-me de ficar embasbacado pela acção frenética (sem deixar de ser juvenil) da série. As enormes ondas tsunamis presentes como estigma cultural no país do Sol Nascente e que foram os que causaram com que use esta palavra de quando em vez na minha escrita. Os bichos-de-conta aos milhares como prenúncio da desgraça. As recordações de um passado assustador de guerra como um aviso para o seu evitar no futuro.
Para além de ter uma concepção original das suas estórias, Hayao Miyasaki merece a minha consideração e respeito porque percebeu que a melhor maneira de chegar a crianças, jovens e adultos em simultâneo era não tratar os primeiros com condescência e os últimos com saudosismo.

Genérico de "Conan, o Rapaz do Futuro"

Pastilhado … por comprimidos para a garganta

Ultimamente tenho ficado afónico com muita frequência. Talvez seja da velhice, talvez seja do ar-condicionado medíocre no meu trabalho, mas começa com um catarro irritante (eu não fumo) e termina comigo rouco.
A minha mulher já me disse para ir ao médico mas eu – casmurro – acho que é uma maleita insignificane demais para implicar uma deslocação ao Posto.
Em alternativa, agora estou viciado em pastilhas para a garganta. É ridiculo, eu sei.
Comecei com as Valda, mas agora são ineficazes. Também já experimentei as Medifon mas não me agradou o seu efeito pouco intenso, nem o aroma a laranja.
Actualmente, sou totalmente adepto das Fisherman's Friend. Agora, mal sinto uma leve tremura ou arranhar na traqueia, tomo logo uma pastilha. Estou de tal forma viciado que acho que já tenho sintomas de overdose com o céu da boca irritado – julgo que será das pastilhas, mas enfim, são as mesinhas destes tempos pós-modernistas.

A Cantiga é uma Arma

Ontem decidi ouvir novamente o primeiro dos Rage Against The Machine. Tavez por se estar a aproximar a data da sua vinda a Portugal após a separação de muitos anos. Apesar de, infelizmente, não os ir ver, agradou-me saber da sua reunião para espalharem um pouco mais da sua revolução musical pelo mundo; provando que a música enquanto acção interventiva continua viva.
Todos os seus 3 álbuns de originais são manifestos revolucionários poéticos e musicais. O primeiro, devido à sua elevada originalidade para a altura, foi e é um murro nas ondas hertzianas do conformismo contemporâneo, se bem que foi no terceiro (The Battle of Los Angeles) que aplicaram na prática a música como acto interventivo ao causarem um pequeno motim à porta do NY Stock Exchange na gravação do videoclip para o “Sleep Now in the Fire”.
Foi em ’93, andava eu no 10º, quando me deparei com a excelência dos RATM. Fiquei maravilhado com o facto de ainda existirem crentes e representantes da música interventiva, a conseguirem fazer algo fascinante e adaptado àquele início de década. As palavras fortes e incisivas de Zach de la Rocha acompanhadas do Pfunk rude e agressivo de Morello, Tim e Brad eram o som dos descontentes, da minoria da esquerda revolucionária, em busca de uma manifestação difícil porque, apesar do alerta em “Know Your Enemy”, aquele estava e continua a estar difuso entre políticos e interesses económicos.
Acho que continuam uma tradição cultural já desenvolvida anteriormente naquele país pelos representantes da folk americana (Pete Seeger, Bob Dylan e outros).
Quando criança, os meus pais impingiam-me a versão nacional dessa música de intervenção. Muitos fins-de-semana passei a ouvir Zeca Afonso, Ary dos Santos, Fausto, Manuel Freire, Sérgio Godinho, José Mário Branco, Adriano… Muitos deles ficaram na minha memória musical como um passado ilustre da nossa música e, em muitos deles, como epítomes qualitativos da sua produção. Por exemplo, continuo a considerar a obra de Adriano como das mais originais e que melhor representam a alma melancólica do português.
Actualmente, apesar de existirem intérpretes e grupos que controem partituras magníficas na música nacional, vejo que a expressão Música de Intervenção já não se aplica como se fugissem dessa classificação maldita – o que em parte é compreensível dado o estigma e bagagem que tem na realidade musical na história de Portugal. Mesmo os Mão Morta têm uma componente mais de irreverência do que de intervenção; mesmo o universo rap/hip-pop (por excelência, fértil como música de intervenção) aborda mais temáticas pessoais e de comportamentos marginais, que de intervenção social.
Isto porque, apesar de não o ter vivido, por vezes tenho alguma nostalgia dos tempos do PREC, da revolução constante e a Cantiga é uma Arma multiplicar-se por várias manifestações musicais no impulso do momento ou em estúdios de gravação elaborados.
Isto também porque hoje ofereci a coletânea, “E Depois do Adeus…”, de músicas (agora clássicas) do pré e pós 25 de Abril à minha mulher que precisava de satisfazer os seus actuais gostos por Música de Intervenção. E eu, precisava de começar a ouvir álbuns que fossem os meus, em vez de ir surripiá-los aos meus pais.

Rage Against The Machine - Sleep Now In The Fire

Dá-me o telemovel já! - VERSÃO COMPLETA

24/03/2008

Os professores, os alunos e os seus pais

Professora agredida por aluna

A primeira vez que me deparei com esta notícia tive uma certa relutância em comentá-la logo de imediato, embora tivesse a noção que iria fazê-lo mais cedo ou mais tarde.
Tal sucedeu porque na minha condição de pai deparo-me frequentemente com as birras da minha filha confrontarem-se com os meus dilemas de pedagogo em, aceitar sem questionar o que ela pretende para sua felicidade ou, negá-la para seu próprio bem e para usufruto do seu futuro primoroso e social da sua vivência connosco e com os restantes. Considero também que nós, os da geração dos trintas, somos frequentemente questionados pela geração anterior quanto à nossa capacidade de paternidade e de educadores face ao avolumar de episódios como o descrito na notícia no cabeçalho.
Infelizmente, concordo que este episódio da aluna, a professora e o telemóvel, é o paradigma triste da crescente irresponsabilidade e desrespeito que a juventude actual pautilha diariamente para com os mais velhos. Tal decorre da própria ideologia da nossa sociedade ocidental que, com o passar dos anos, vem estripando a importância da sapiência da senioridade. Tal decorre também desta juventude “Morangos com Açúcar” e Playstation 2 e – digam o que disserem – a visualização constante de putos imberbes a contestar professores tem forçosamente de ser a semente para estas cenas que ocorrem na realidade.
Com isto não quero dizer que estes programas e jogos têm de ser proibidos ou erradicados. Não. A liberdade de expressão tem de continuar a ser primordial na nossa sociedade. Mas, os valores actuais da sociedade pedem também que haja sanções mais pesadas para este tipo de comportamentos escolares; porque o real problema nas nossas escolas é o sentimento de impunidade que se está a transmitir às nossas crianças. E, este sentimento é incompatível com a característica mais importante da sociedade moderna: a Responsabilidade. Sem esta qualidade perdemos o que de mais importante temos: a nossa Liberdade.
A educação tem de estar presente tanto na escola como em casa. Mas, acredito que nem todas as crianças são puramente boas de coração. E, por isso, professores e escolas têm de ter mais poder para poder impôr a sua autoridade aos alunos sem com isso terem receio da retaliação de papás a fazerem-se de ofendidos no seu teatro social de esperarem à porta da escola pelo professor do seu aluno. Se os pais não têm respeito pela figura do Professor, o filho-aluno também não o vai ter.
Claro que se continuaramos a ter professores que o são por 3ª ou 4ª escolha, a qualidade do ensino vai diminuir e o facto de nós pais nos apercebermos desse decréscimo não vai abonar para que esta condição se altere.
Esta aluna de 15 anos deve ser severamente castigada. Só isto. Não há necessidade de justificar esta minha opinião.

23/03/2008

Páscoa no Hospital

Hoje, dia de Páscoa, a minha filha achou por bem que a passasse-mo-la no Hospital. Encontrou uma caixa de calmantes da minha mulher e comeu um comprimido.
Estava a trabalhar quando a minha mulher telefonou com esta notícia dramática. Espavorido e assustado, parti a alta velocidade para casa buscá-las. Encontrei a minha filha dormir no sofá.
Partimos para o Hospital e ficámos lá 6 horas em observação. Passado sensivelmente hora e meia, a menina já não apresentava sinais de sonolência e depois iniciou-se a provação de a entreter para as horas que ainda tinhamos de lá ficar. Pior: a dada altura acordou a menina cigana (da mesma idade que a minha) que estava na cama ao lado e que também estava em observação. A rapariga não podia comer e ficou 3 quartos de hora a berrar “Mamã! A mama!”. Ensurdecedor.
Felizmente, agora está tudo bem e a minha filha já dorme descansada na sua cama.

Carne de Cristo

A minha mulher, que era uma Socialista ferrenha, converteu-se e agora é uma Católica Comunista. Não vê nisso qualquer contradição e, quando lhe falei das Teologias da Libertação de Leonardo Boff de pregar o Evangelho social e como Jesus Cristo foi o primeiro comunista, mais abraçou a sua nova ideologia. À partida negou, mas no fundo acredita que a nova denominação que lhe atribuí é a mais adequada.
Na Sexta-feira Santa, em virtude dos seus ideais só nos alimentámos de peixe. Um robalinho e um cherne grelhados ao almoço, umas postas de salmão assado ao jantar – um deleite. Gosto muito de peixe porque não o como com tanta frequência quanto a sua rival: carne. A cultura e a tradição têm destas coisas boas: a ciclicidade com que repetimos os hábitos que os nossos pais nos impunham (e que, ironicamente, agora já não seguem) que achavamos bizarros (eu pelo menos achava, porque este meu gosto por peixe é um palato já da minha fase adulta), agora ocorrem como que por acidente e para mútua satisfação de pertença à família, que é a minha.
Também há tradições que se renovam e se actualizam. Como é o caso dos filmes pascais que passam na televisão recorrentemente. Para a geração dos nossos pais esses filmes eram o “Quo Vadis” ou “Os Dez Mandamentos” (se bem que este último passava mais por altura do Natal) que, ano após ano, passavam com a mesma repetição com que o cabrito e o borrego ocupam as mesas pascais desde tempos imemoriais; para a geração actual esse filme é “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson, que já vai na sua 3ª repetição televisiva pascal, desde que estreou no cinema em 2004.
Acho que o filme “A Paixão de Cristo” é bastante adequado para a Páscoa. Não só porque retrata o episódio bíblico que o mundo cristão celebra nesta altura; mas também porque termina com a renovação (a ressureição de Cristo), sentimento presente desta altura do ano e que, já antes do Cristianismo, se celebrava em virtude da mudança da Estação e do seu rejuvenescer. Para além do mais, a sua brutalidade e ferocidade é paradigma dos tempos contemporâneos, em paralelismo com o celulóide delico-doces dos filmes bíblicos de outrora.
Não sou crente. Também não sou anti-cristo, nem ateu. Simplesmente não acredito na existência de Deus porque, pura e simplesmente, nada me provou até à data a sua existência. O mesmo já não ocorre com a figura de Cristo: provas há e acredito que tenha existido, que tenha sido um rabi com uma teologia nova para a altura mas não acredito na sua paternidade e condição divina.
No entanto e por causa disso mesmo, gosto deste filme. Vi-o pela primeira vez na excelente sala de cinema do Cine-teatro do Monumental. Na altura, impressionei-me com a violência explícita e grafismo martirizante, retratando de forma crua mas apaixonada um dos episódios mais cativantes da vida de Cristo: o seu martírio, queda e ascenção. Afinal, foi daqui que emergiu o ícone que leva muitos seres humanos a usá-lo ao pescoço.
A primeira vez que o vi, pensei logo de imediato e de forma asséptica, “que excelente mecanismo de propaganda; os novos fiéis que este filme vai conseguir arrebanhar para a congregação”. No final do filme e mais tarde, achei que se trata de uma bela obra de arte simplesmente porque se trata do fruto que advém da paixão fervorosa de um homem por uma temática que afecta, a crentes e descrentes.
Agora, na Páscoa, sempre que ele se repete na TV, revejo-o. A última versão que passou na Sexta, já está um pouco censurada na parte da primeira chaga de Cristo (as chibatadas) na qual retiraram a cena em que salta parte da sua costela em primeiro plano. À medida que o filme avança, vou recordando as histórias que li e ouvi no meu curto catecismo (só fiz um ano, depois entediei-me e desisti): o José de Arimateia, os 30 dinheiros, o Santo Sudário.
A cena mais épica para mim é a visão do alto após a morte de Cristo e cai a primeira gota do dilúvio na qual a mesma cruza o campo de visão da câmara. E “seja feita a sua vontade” e foi. Quem já leu “O Evangelho segundo Jesus Cristo” sabe do que falo.

19/03/2008

Message to Outer Space

Arthur C. Clarke: morreu um dos mestres da ficção científica

Um dos grandes da Ficção Científica faleceu ontem e descolou o seu corpo numa cápsula espacial de contra o firmamento.
Confesso que não sou um assíduo leitor de Arthur C. Clark mas tenho a agradecer-lhe pelo facto de ter tornado o género da Ficção Científica mais real e próxima de nós Humanos: embriões dos futuros viajantes das galáxias.

17/03/2008

Estupidez Humana

As calotas polares estão a diminuir. Os recursos de água potável no Planeta escasseiam de ano para ano. Mais um mês que passou, mais um género animal que ficou em via de extinção, mais uma espécie de anfíbio que desaparece da face da Terra.
Inicio este prólogo tendo em mente duas notícias que li hoje:

São gastos 5 mil milhões de dólares (8.000.000.000,00 Euros) em 10 dias na Guerra do Iraque e os dividendos que a administração americana tem para apresentar é mais um episódio de sofrimento humano para o seu próprio povo, arrastando atrás de si importantes vidas humanas de supostos aliados e supostos invadidos.
E isto para quê? Para ter como objectivo o aumento do custo de vida e das dificuldades económicas a nível global porque FMI, e outras organizações parecidas, apoiam a base da sua economia num combustível obsoleto, imundo e (felizmente) em vias de extinção. Esta sua escassez aumenta o seu preço – ainda que muito especulado – e inflaciona os preços de outros bens realmente necessários.
Em Espanha, o gasóleo até já passou a barreira mítica de ser mais caro que a gasolina.
Lamentavelmente, os híbridos ainda são um luxo e o veículo totalmente eléctrico mantém-se num horizonte distante. A minha secreta esperança é que o petróleo atinja a sua extinção antes de outras espécies animais importantes. Mas, a ignomínia humana pode ser arrastada nessa extinção.

15/03/2008

O Medo

Hoje li na Sábado que o Sol irá expandir-se e engolir a Terra daqui a 7,6 mil milhões de anos.
A imensidão desta data é devastadora para a minha compreensão. Nessa altura já cá não estarei; a minha filha também não. Serei somente uma vaga memória se tiver algum Feito marcante na minha estória; ou então, serei somente uma estatística, um número, um dígito, se perdurar a mediocridade das minhas realizações, dos meus contributos para a humanidade.
Penso que será a Literatura a configurar a minha imortalidade. Para tal, terei de ultrapassar a minha cobardia e meu espírito diletante. Caso contrário, serei somente um habitante deste território chamado Portugal cujo maior obra escrita foi a filha que concebi.
Todos estes anos que me separam da extinção do planeta Terra dão também outra perspectiva aos meus dilemas actuais.
Tenho presente 3 Medos. Comparados com a evidência de que a Terra me irá sobreviver, recordam-me que terei efectivamente um Fim e, angustiam-me, perante a minha pequenez e dos meus problemas.
De qualquer das formas, o Medo mantém.
O medo de que irei terminar minha vida como mortal.
O medo de que as minhas escolhas conduzem-me para episódios de conflitos e caos recorrente. Esta escolha que não posso abandonar.
O medo avassalador de sentir, dentro de mim, o avolumar da ausência de emoções.

13/03/2008

Regret

“Daddy?”
“Yes, son!”
“What does regret mean?”
“Well, son… A funny thing about regret is: that it’s better to regret something you have done than something you haven’t done.”


Assim começa o excelente álbum dos Butthole Surfers, “Locust Abortion Technician”.
No decorrer da minha vida sempre apliquei (ou tentei aplicar) esta máxima nas minhas escolhas porque não quereria mais tarde ficar a pensar “e se…”, “e se…”; e acreditem, chegou acontecer algumas vezes.
Actualmente, apesar de ainda acreditar nesta filosofia de vida, coloco algumas dúvidas acerca da sua plenitude.
Talvez seja dos últimos dias.
Ainda é preferível arrependermo-nos do que fizemos do que o que não fizemos, mas o meu ensinamento para a geração vindoura é para ponderar bem as suas escolhas para que, no futuro, evitem o arrependimento mas também a vergonha pelas suas escolhas. Pois não há nada que desanime mais um homem que a sensação de fracasso e a vergonha que ele acarreta.
Não devemos ter receio de errar, nem podemos ter; mas a vergonha nas próprias escolhas é como deparar-nos com um beco sem saída…

12/03/2008

Epifania

Hoje no trabalho iniciei a minha gestão por duodécimos, ciente da borrasca que se avizinha nas nuvens escuras no horizonte.
Ao tomar esta decisão, que muito me afectou (e afecta) a moral, comecei a escrever mentalmente o meu epílogo e, ao fazê-lo, tive uma epifania. O problema dessa epifania é que é uma acusação que me liberta das responsabilidades pelo sucessão de happenings caóticos dos últimos anos e aponta o dedo a quem me é próximo.
É deprimente sentir este vazio de emoções que agora preenche a fé afectiva que dantes havia em mim.

06/03/2008

Bandeira x 2









Ora, nem mais!












Mais uma vez: Cada país tem os políticos que merece!

05/03/2008

Nostalgia (Todos os Homens perdidos no Alto-mar)

Recordo
quando criança
ir para o fundo da piscina
e observar as bolhas de ar a flutuarem até à superfície
e fingir-me morto

Numa fragata voadora
num turbilhão de marés
em bolina
de contra o horizonte
cruza as vagas imensas
tsunamis no Trópico de Capricórnio
onde jaz à vida
um corpo de menino
a flutuar no meio dos destroços
Dá pulos de contentamento
sem parar
sem parar
ininterruptos
como a espuma das ondas a escorrer no infinito das rochas lacradas de bivalves
salta
menino salta
até a tua nuca chocar dolorosamente de contra o tecto do teu prédio
As velas ufanas
cheias do zéfiro matreiro
que te convenceu que a maturidade era o mar doce na foz do teu rio
E assim
no fundo dessa tumba fluvial
desapareceu o berço preenchido com o teu nascimento
Numa decrépita barcaça
devassada pelas tempestades
que torceram-te o pescoço
para que fenecesses com celeridade
Os beijos amargos de tufões e ciclones
que te amaram
e fornicaram o teu corpo pueril
Teu peito que abraça essa sensualidade
e tornou-se margem desse istmo
e ficou costa desse Golfo de águas cálidas e plácidas
mas que anseia pela revolta da borrasca
As mulheres ocultas nos remoinhos de vento
que entram no teu país
na tua fronteira
no teu território
para te provar
que
quando eras índole no palco do recreio da escola
agora
és boçal ao leme do teu frágil iate
ao sabor do seu ondular hesitante
prenúncio de uma vaga que te vai esmagar de contra a amurada
de um porto que não desejas
Repara
malgrado
a tua âncora já nele se encontra alojada
Neste catamarã
que rasga os mares
atolou no gelo do Árctico
secou na desilusão dos remos partidos
duma Epopeia demasiado difícil
demasiado complicada
por demais depressiva
Vaga sim
onda não
vaga sim
onda não
e no meio meu corpo flutua
sem vida e sem norte
O magnetismo do chamamento do Oceano
escondido no búzio esotérico
é somente o mole de minhas falanges
onde o respeito que te tinha
ó mar
perdeu-se no receio
do amor que tenho
ó Oceano
Desde o tornozelo até às ancas
o sentimento na lonjura da água nas minhas palmas
como a natural riqueza
de me saber reflexo desta água
onde meus pés assentam serenos por não terem areia onde atracar
Eu sou a rocha em busca da vaga violenta
Eu sou o promontório que te dá o pôr-do-sol
Eu sou
o fundo do mar e os tesouros que não queres desvendar
Tesouro
é o conhecer
é o amargo de boca em provar a beleza efémera
numa sereia enlouquecida
mas o leme força ainda
o teu barco de contra os recifes da realidade
Eu sou
o coral poluído
moribundo porque assim o desejo
na tatuagem
e no estandarte no alto do meu navio

Recordo
quando criança
ir para o fundo da piscina
e observar as bolhas de ar a flutuarem até à superfície
e fingir-me morto
Hoje
já adulto
desejo falecer num Oceano desconhecido
para que me esqueçam a sepultura

04/03/2008

god blesssssss Amerika


EUA patrocinaram tentativas da Fatah para derrubar Governo do Hamas

Os anos passam. As administrações também. Desde JFK, passando por Kissinger e Reagan, até W., o modus operandi continua a ser o mesmo. Black ops seguidas de vis ingerências na política interna de outros países, impondo Governos convenientes aos seus próprios interesses político-económicos para a sua visão bélico-puritano do Mundo.
Enfim, “as moscas mudam mas…”

Like a Bridge over Troubled Water…


When you’re weary, feeling small,
When tears are in your eyes,
I will dry them all;
I’m on your side. When times get rough
And friends just can’t be found,
Like a bridge over troubled water
I will lay me down.
Like a bridge over troubled water
I will lay me down.

When you’re down and out,
When you’re on the street,
When evening falls so hard
I will comfort you.
I'll take your part.
When darkness comes
And pain is all around,
Like a bridge over troubled water
I will lay me down.
Like a bridge over troubled water
I will lay me down.

Sail on silvergirl,
Sail on by.
Your time has come to shine.
All your dreams are on their way.
See how they shine
If you need a friend
I’m sailing right behind.

Like a bridge over troubled water
I will ease your mind.
Like a bridge over troubled water
I will ease your mind.

Com isto não quero de modo algum tecer algum comentário sarcástico sobre o sucedido há 7 anos atrás em Entre-os-Rios.
A canção e a sua letra em nada estão relacionadas com a catástrofe que ocorreu às vítimas e às suas famílias, que sobreviveram com a herança de uma amargura e um sentimento de perda do qual não conseguiram ser compensados ou mesmo que fosse atenuada a sua infelicidade.
Aplica-se aqui o repto popular: “A Culpa morreu solteira” – evidência sempre presente na realidade nacional desde tempos imemoriais. E, não acredito que tenha de haver um culpado para toda a tragédia que ocorre no país; mas uma compensação era de direito neste caso, e não desculparem-se com a costumeira Providência Divina, na qual são sempre os mesmo a caírem por terra e desistirem.

03/03/2008

Bell Vs Meucci













Faz hoje 161 anos do nascimento de Alexander Graham Bell.
Durante anos foi considerado o inventor do Telefone que, altruistamente, desenvolveu no intuito de melhorar a capacidade de comunicação da sua mãe, que era surda.
A autoria da invenção do telefone sempre foi controversamente defendida entre Bell e Antonio Meucci. Aliás, nos EUA dos finais do Séc. XIX tal discussão levou a uma das primeiras batalhas de patentes da história da ciência e que marcou o definitivo entrosamento entre Negócio e Conhecimento na cultura desse país. Apesar de todos os reconhecidos defeitos associados a esse país, tal ligação foi o que permitiu que a investigação universitária e empresarial seja tão forte e empenhada na sociedade norte-americana.
A patente acabou por ser atribuída a Bell – nos EUA de então, os WASP's ainda eram quem dominava a realidade socio-política e os italo-americanos (como Meucci) ainda eram uma comunidade emergente. Tal patente permitiu a Bell criar o império telefónico que ligou as vozes de um país em criação, bem como um Planeta a necessitar de comunicar. Comunicação essa que se estendeu para lá da voz. Por esta realidade actual, temos de lhe agradecer.
Quanto ao verdadeiro inventor do Telefone, a História já lhe fez justiça ao ser reconhecido como tal. E, embora Meucci, não conste no nome de nenhuma Companhia telefónica, sobrevive em acérrimos defensores que deambulam em personagens cinéfilas como Joey Zasa no Godfather III.
Obrigado a ambos.