18/04/2009

"Sr. Engenheiro dê-me um pouco de atenção..."


À Sexta é certinho: vemos sempre o Jornal da noite da TVI, que a minha mulher gosta de ouvir os comentários do Vasco Pulido Valente.
Então ontem a TVI começou a publicitar a música “Sem Eira Nem Beira” do últimos dos Xutos como a nova canção de protesto, que pelo visto até “já chegou a Viseu” (Vasco dixit).
A TVI já tinha iniciado esta propaganda da canção do “Sr. Engenheiro” no programa de opinião do TVI 24 e agora vai ter uma maior difusão tendo em conta a reportagem de ontem.
Gostei de ouvir a ironia do José Mário Branco em como ele não compreendia porque é que os Xutos estava a fazer uma canção de protesto quando está tudo a correr tão bem no nosso país.
Fica então aqui o registo da canção do momento.
Desde o "Ai a puta da minha vida!!" do Dia de S. Receber que o Kálu não lhe dava tão bem.


15/04/2009

O Esquentador na Páscoa

Ontem, para coroar em grande o fim da Páscoa, quando regressei de uma ida ao Porto para uma entrevista, a minha mulher informou-me que o esquentador avariou.
Vinha no caminho pela Nacional e já estava a ver a minha tarde todo enguiçada de volta do fdp do esquentador.
Eu que faço bricolage por que tem de ser e não por auto-recriação como alguns, arranjar ou montar esquentadores é das piores tarefas que me podem colocar à frente.
Pior que tudo é que depois de uma tarde de volta do animal, não consegui remontar o esquentador porque uma das mangueiras não entrava na rosca da água de saída: está moída. E isto sob a assistência dos meus sogros e da minha mulher.
A minha mulher reage muito mal a este tipo de contrariedades relativas a avarias em electrodomésticos. Por isso, foi sem surpresa que começou a desesperar com a hipótese de ficarmos alguns dias sem o esquentador.
Infelizmente, um esquentador (picheleiro nesta parte do país) é actualmente difícil de arranjar e, se o encontrar-mos, conseguir-mos fazê-lo querer trabalhar (mesmo que paguemos) é uma tarefa hercúlea. Tanto que até este momento ele ainda não devolveu a chamada…

13/04/2009

Resquícios Pascais

A Páscoa ainda não terminou. Em Braga (e muitas outras localidade no Norte) até existem mais pessoas a festejá-la e empresas encerradas hoje, que é Segunda-Feira, do que na Sexta-feira Santa.
Estes dias passei-os mais nervoso que o normal. A presença dos meus sogros mas, principalmente, do filho da minha mulher colocam-me mais em alerta e num estado defensivo.
Quero acreditar que toda a sua geração não é tal como ele, mas exemplos que captámos nas suas trocas de mensagens no Hi5 e Messenger, levam a crer que as diferenças não serão muitas.
Ele é muito amigo de ajudar e nota-se que gosta das irmãs mais novas. No entanto, só está satisfeito a comprar roupa de marca e está sempre pronto para devolver uma resposta estúpida e insolente a um adulto. Como não gosta de ser contrariado (nem percebe esse conceito), a forma como ele responde aos avós só nos é aceitável porque já convivemos há algum tempo com esse tipo de relação/comunicação.
Fico apreensivo porque este é o exemplo e o resultado da nossa educação enquanto pais e com receio de falhar no que respeita à educação das minhas filhas mais novas.
Nesta época simbólica da renovação e do rejuvenescimento, é paradigmático que eu esteja preocupado com a futura geração que irá render a minha geração.

11/04/2009

Nascido na Cidade que não Existe

A Era da informação tem as suas vantagens.
Quando era mais jovem e meus pais informaram-me da minha cidade de nascimento, os livros ou as enciclopédias eram parcas em fornecer os conhecimentos geográficos, sociais, demográficos para poder esclarecer a minha curiosidade ou até mesmo para poder comprovar a sua existência. Os meus pais disseram a palavra Umtali como sendo a cidade fronteiriça para onde a minha mãe teve de ir para me parir. Na altura, a independência de Moçambique tinha conduzido ao êxodo dos médicos portugueses brancos da cidade da Beira (entre outras cidades moçambicanas) onde eles residiam então. Como ficaram com algum receio de alguma complicação e, por certo, duvidavam das competências do corpo médico que tinha escurecido a tez, acharam por bem que a minha mãe fosse para Umtali.
Umtali era uma cidade zimbabueana grande e com hospital que ficava na fronteira com Moçambique na província de Manica – muitas vezes ouvi alguns dos meus parentes retornados a falarem desta província, sem saber que também tinha nascido nela mas do lado zimbabueano.
No ano em que nasci, Moçambique era independente enquanto Zimbabué ainda vivia sob o jugo do Ian Smith e os seus comparsas; como também não se chamava Zimbabué mas República da Rodésia.
Ainda vivi alguns anos enquanto rodesiano e, inclusive, com esse registo no meu BI. Alguns amigos mais conhecedores de história mundial até me gozavam por ter nascido num país racista e que já não existe. Dessa forma, me fui assumindo como sendo da terra de ninguém, de um país que não existe.
Enquanto crescia, e lá longe o meu país de nascimento transformava-se de nação africana modelo para um Estado falido e desumano, o meu interesse por essa cidade misteriosa de Umtali não conseguia ser satisfeito.
Ontem, após 33 anos passados, lembrei-me de googlar “Umtali” pois pretendia confirmar se se escrevia com “n” ou com “m”. Não só esclareci a minha dúvida como fui confrontado com a informação de que, para além de ter nascido num País que já não existe, também nasci numa Cidade que já não existe. Afinal, a misteriosa cidade fronteiriça dá-se agora a conhecer pelo nome independentista de Mutare.
Eu que sempre preenchi os formulários no campo ‘Naturalidade’ como “Umtali, República do Zimbabwe”, doravante vou ficar na dúvida de qual será a designação mais adequada para o meu berço geográfico. Talvez algo dentro do género: “Umtali, República do Desaparecimento”.














Este é o meu mito cosmogónico. Aqui está para mais tarde entediar as minhas filhas naquelas noites chuvosas que as obrigarão a ficar em casa com os velhotes.

10/04/2009

A Fénix e a Páscoa

Estou de volta.
Mais um interregno.
Entretanto, muita água correu por baixo da ponte...
Fui pai novamente de mais uma menina lindíssima. Estou a contribuir para o proliferar da minha semente para aumentar a população nacional. Comecei no “A” e já vou no “C” mas já não vou avançar mais pelo abecedário da procriação.
A minha filha ainda tem os olhos claros. Aquela translucidez luminosa de quem acabou de nascer em que a retina ainda não se adaptou ao manancial de luz e matizes do mundo exterior e, por isso, ainda não tem uma cor de olhos definida.
Tem as expressões e o nariz da mãe (todos eles têm) mas tem o pé magrebino como o pai.
A confecção genética do Ser faz sempre de modo que, ao encher o cabaz dos cromossomas, vai buscar uma parte à prateleira do pai e a outra à prateleira da mãe. Deve ser para repartir a nossa herança de maneira uniforme.
O resultado dormita agora no seu Ovo (ou Baby Cock, como dizem aqui em Braga) em cima da cama dos seus pais.


















Continuo em Braga mas mudei de casa. Mudei-me para o centro da cidade e abandonei o campo. Como esta mudança constatei várias situações...
Morar no centro da cidade (qualquer que ela seja) é um aumento exponencial da qualidade de vida, pois ficamos mais próximos de tudo e o recurso ao carro decorre do estritamente necessário e não porque não temos outra alternativa.
Outra mais valia é o facto de já não termos de conviver com a população campesina dos arrabaldes de Braga. Não tenho nada contra com a população rural mas a sua mentalidade é por demais mesquinha e tacanha e, por esse motivo, entrar em conflito com a minha filosofia de vida e da minha família. São pessoas metediças na vida umas das outras e avessas a qualquer tipo de aproximação de pessoas estranhas à comunidade. Ou seja, se nós fossemos lá só para férias, estava tudo OK; mas se a proposta for passarmos a ser vizinhos, a sua reacção é de indiferença ou até de agressividade. Por isso, eu e a minha mulher decidimos voltar a habitar num sítio mais civilizado, onde os vizinhos dizem “Bom dia” e “Boa tarde” e não chateiam mais.
Hoje é Sexta-feira Santa e chegam os meus sogros que vêm da capital do Império para passar a Páscoa connosco. Espero que seja pacífica e tranquila.
A seguir ao trabalho ainda tenho de ir comprar o borrego. Devo ir pagar uma batelada porque já só deve haver cabrito.